Breve Catecismo de Westminster - Da Pergunta 12 - O Pacto de Obras

Pregado em 07 de maio de 2017 - Na Capela Missional de Porto Alegre

PERGUNTA 12. Que ato especial de providência exerceu Deus para com o homem no estado em que ele foi criado?

R. Quando Deus criou o homem, fez com ele um pacto de vida, com a condição de perfeita obediência: proibindo-lhe comer da árvore da ciência do bem e do mal, sob pena de morte.
Gn 3.12; Gn 2.17

                              

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                       O PACTO DE OBRAS

Gn3.1-19
1 Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?   

2 Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer,   

3 mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais.  / 4 Disse a serpente à mulher: Certamente não morrereis.   

5 Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal.  / 6 Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu.   7 Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; pelo que coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.   

8 E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.   / 9 Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás?   / 10 Respondeu-lhe o homem: Ouvi a tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu; e escondi-me.   / 11 Deus perguntou-lhe mais: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?  / 12 Ao que respondeu o homem: A mulher que me deste por companheira deu-me a árvore, e eu comi.   13 Perguntou o Senhor Deus à mulher: Que é isto que fizeste? Respondeu a mulher: A serpente enganou-me, e eu comi.   / 14 Então o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isso, maldita serás tu dentre todos os animais domésticos, e dentre todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos os dias da tua vida.   / 15 Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.   / 16 E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a dor da tua conceição; em dor darás à luz filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.   / 17 E ao homem disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei dizendo: Não comerás dela; maldita é a terra por tua causa; em fadiga comerás dela todos os dias da tua vida.   / 18 Ela te produzirá espinhos e abrolhos; e comerás das ervas do campo.   / 19 Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás.   / 20 Chamou Adão à sua mulher Eva, porque era a mãe de todos os viventes.   / 21 E o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu.   / 22 Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem se tem tornado como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Ora, não suceda que estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente.   23 O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden para lavrar a terra, de que fora tomado.   / 24 E havendo lançado fora o homem, pôs ao oriente do jardim do Éden os querubins, e uma espada flamejante que se volvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida. 

 

"O primeiro Pacto feito com o ser humano era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal" - Confissão de Westminster VII, II

O pacto de obras é também chamado de Pacto da Criação ou Pacto Natural.

Adão foi obra do Deus criador. Deus cria Adão à sua imagem e semelhança e em estado de inocência e pureza. É o que chamamos de santidade primária. Ele neste sentido era santo, pois tendo sido criado à imagem de Deus, possuía capacidade de obedecer à Deus. É o que chamamos de livre-arbítrio. Sim, Adão tinha o livre-arbítrio. Esta primeira condição do ser humano como imagem de Deus, lhe dava a potência da bondade interior e felicidade exterior. Havia ali duas condições: a felicidade do homem e o governo de Deus. A satisfação do ser humano com Deus e a bênção ilimitada do criador. Retidão original, imortalidade e governo, este era o destino do ser humano original.

Veja que Adão foi posto num estado no qual poderia permanecer e cair, pecar e não pecar.
Adão - A liberdade de Adão era a de poder não pecar.
A dos pecadores depois da queda – não poder não pecar.
A dos salvos, na graça – Poder pecar e não pecar
A dos salvos na glória – Não poder pecar.
Adão tinha o poder de não pecar. Os salvos tem o poder de pecar, mas também de agir bem. Os pecadores sem a graça tem a incapacidade de agir bem. Na glória teremos a incapacidade de pecar.
 AGOSTINHO – “ a primeira liberdade da vontade era a de poder não pecar, a última será muito maior: não poder pecar. A primeira imortalidade consistia no poder de não morrer, a última será muito maior: a incapacidade de morrer. A primeira consistia no poder da perseverança, no poder de não abandonar o bem, a última será a felicidade da perseverança, a ausência de poder de abandonar o bem”.

Mas Adão foi testado ao Deus estabelecer um pacto. Tudo o que Adão recebeu deveria manter ou perder mediante um pacto. O pacto de obediência à Lei. Deus estabelece uma promessa de vida em caso de obediência e um juízo com a morte em caso de desobediência. O pacto consistia em que Deus, o criador, fez com o homem como criatura, recebesse a felicidade e vida eterna sob a condição de obediência perfeita. Adão podendo obedecer, escolhe desobedecer e a morte é a consequência. 

Esta é a chamada Teologia Federativa ou pactual porque explica de onde vem a natureza caída do ser humano. No pacto com Adão , por ser Adão o pai da raça humana, ele continha em si toda a humanidade, pois toda a humanidade é filha de Adão.  Ele foi constituído chefe e cabeça da raça humana, e ele fez um pacto por si e pelos seus.

A árvore do conhecimento do bem e do mal era o símbolo do teste.  Era a prova da obediência. Não era um teste difícil como foi, por exemplo o teste com Abraão.  Deus deu um teste fácil, não grande e nem difícil, a fim de que a obediência fosse fácil e o homem ficasse privado de qualquer justificativa , se porventura viesse a transgredir.

AGOSTINHO – “Quem quer que pense que a condenação de Adão foi grande demais ou injusta certamente não sabe medir a grande iniquidade de pecar; portanto, assim como a obediência de Abraão é merecidamente celebrada como grande, porque a morte de seu filho, algo dificílimo, lhe foi ordenada, assim também, no paraíso, a desobediência era infinitamente maior, visto que aquilo que foi ordenado não era difícil.”

A desobediência foi a quebra do pacto e perda dos benefícios da aliança. Vejamos os passos do texto:

1 – A PROVA FOI POR MEIO DE UMA TENTAÇÃO PARA QUEBRAR O PACTO – Vs 1-5

O tentador vai no ponto principal, convencendo que o pacto é injusto e que no mínimo a dúvida era pertinente.
Lutero – “ Satanás ataca Adão e Eva  dessa maneira para privá-los da Palavra e fazê-los acreditar na sua mentira depois perderam a Palavra e sua confiança em Deus.

2 – A PROVA DA OBEDIÊNCIA FOI QUEBRADA COM A DESOBEDIÊNCIA PONTUAL – V. 6

Eva tomou justamente o fruto proibido e deu a seu marido. Ali estava quebrado o pacto. A desobediência estava consumada. Adão pecou voluntariamente, uma vez que ele tinha o poder de obedecer.

3 – O PRIMEIRO JUIZO FOI A PERDA DO ESTADO ORIGINAL DE INOCÊNCIA – V. 7 -9

A consciência da nudez é o a primeira consciência de culpa, esta culpa gerada pela invenção do pecado. Da experiência do pecado. Da perda imediata da comunhão com Deus. Da quebra da Lei. Lutero: oh, que grave e profunda queda, mergulhar do mais alto senso de segurança, da confiança e satisfação em Deus, para um tão pavoroso terror, que os afasta da vista de Deus mais do que da vista e da presença do Diabo.”

4 -  A CONSEQUÊNCIA DA DESOBEDIÊNCIA, TRAZ A NATUREZA PECAMINOSA COMO CONDIÇÃO DO SER – VS 10-13

Nestes versos, o ser humano já se apresenta como ele é hoje. Um pecador. O pecado já dominava suas vidas, como domina a humanidade. Lutero – “ agora, ele foge interminavelmente de Deus e, escusando-se com mentiras, acumula pecado sobre pecado até chegar à blasfêmia e ao desespero. O pecado por sua gravitação, sempre traz consigo outro pecado até a destruição eterna.”

5 - CONSEQUÊNCIA DO PECADO GEROU UMA NATUREZA DEPRAVADA QUE CARREGA A MORTE EM SI MESMA – VS 14-19

O ser humano foi atingido pela Corrupção radical. A natureza pecaminosa. A depravação total de sua natureza.

6 – MAS DEUS, EM SUA BONDADE E MISERICÓRDIA, MESMO NO JUÍZO PROMETE GRAÇA VS 14-15

Deus imediatamente, ao anunciar o juízo, anuncia sua graça e a promessa de um redentor.

Entendamos:

O nosso grande problema é que somos pecadores. A nossa grande felicidade é que temos um Deus que é justo. Que julga com juízo, mas que nos alcança com sua graça e misericórdia.

Que o redentor, Cristo na cruz é o redentor prometido que mesmo sendo nós pecadores em Adão e como Adão, somos resgatados do pecado.

Que a obediência ainda é necessária para a salvação. Somos condenados justamente porque somos desobedientes.

Que a perfeita obediência de Cristo, nos resgata da desobediência de Adão.