sexta-feira, 22 de abril de 2022

Uma Igreja Missional - Segunda Carta de João - Sermão 01

 Pregado em 17 de março de 2019




UMA IGREJA MISSIONAL, IGREJA CONSCIENTE DE SUA MISSÃO NO MUNDO.

            EXPOSIÇÃO DA SEGUNDA CARTA DE JOÃO – Parte 01

2JOÃO 1

1O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade, 2por causa da verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre, 3a graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor.4Fiquei sobremodo alegre em ter encontrado dentre os teus filhos os que andam na verdade, de acordo com o mandamento que recebemos da parte do Pai. 5E agora, senhora, peço-te, não como se escrevesse mandamento novo, senão o que tivemos desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. 6E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos. Este mandamento, como ouvistes desde o princípio, é que andeis nesse amor.7Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo. 8Acautelai-vos, para não perderdes aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes completo galardão. 9Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho. 10Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. 11Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.12Ainda tinha muitas coisas que vos escrever; não quis fazê-lo com papel e tinta, pois espero ir ter convosco, e conversaremos de viva voz, para que a nossa alegria seja completa. 13Os filhos da tua irmã eleita te saúdam.

 Esta pequena carta atribuída a João, o apóstolo é pequena apenas no tamanho mas de um conteúdo fundamental para aplicação na igreja em qualquer tempo. O conteúdo é quase o mesmo da terceira carta e devem mesmo ser lidas juntas.


A Segunda Carta é escrita do Presbítero à Senhora eleita. Provavelmente endereçada

à uma igreja local em sua totalidade para adverti-la sobre o ensino dos falsos mestres.

John Stott comenta que a senhora eleita, “provavelmente signifique uma personificação e não uma pessoa – não da igreja em geral, mas de alguma igreja local sobre a qual a jurisdição do presbítero era reconhecida, sendo seus filhos, os membros individuais da igreja’

Stott argumenta que a linguagem de amor pessoal por uma senhora e seus filhos como um “mandamento que tivemos desde o princípio (v.5), não sugere um indivíduo mais do que o faz a linguagem, a não ser que imaginemos que ela era uma viúva com numerosos filhos, dos quais somente alguns (v.4), estavam seguindo a verdade, enquanto outros haviam caído no erro. Outro fato é que o tratamento dos falsos mestres itinerantes pode ser aplicável a todo lar cristão, mas mais provável que tenha sido dirigida à comunidade cristã e não a algum dos seus lares.

Por isso, entendemos a vamos fazer a exposição neste pressuposto de que a senhora eleita é uma igreja local.

v.1 e v.13 - presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade, / Os filhos da tua irmã eleita te saúdam.

Em 1 Pedro 5.13 há uma linguagem semelhante que certamente se refere a uma igreja, sendo que babilônia seria uma referência simbólica a Roma. – “Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda, como igualmente meu filho Marcos”

Dito isso, neste pequeno texto temos as recomendações a esta igreja, os cuidados com ela e as recomendações do apóstolo. O que vemos é a descrição do DNA desta igreja. Amo mesmo tempo que a carta são recomendações, nelas vemos a essência desta igreja.

I - A IGREJA ESTAVA CONSCIENTE DA NECESSIDADE DE PRATICAR A VERDADE E O AMOR. Vs 1-2

O presbítero – esta é a identificação do autor. 
O presbítero no final do primeiro século, era um líder espiritual da igreja da mais alta grandeza. Alguém que era tido em maior consideração do que o bispo.
 Até os anos 60, o presbítero era o pastor de um grupo específico e o bispo um líder de outros presbíteros (ver por exemplo 1 Pe 5.1).
 Nos anos 80, o presbítero era alguém que possuía uma estatura espiritual reconhecida e era, 
por assim dizer maior do que o bispo. 
A figura do presbítero a partir do segundo século passou a ser mais simbólica do um cargo ou função. Era usado em caráter informal como um destaque honroso. 
Nos anos 80 João era o único apóstolo vivo e ele não usa este termo – pois o termo presbítero havia substituído esta designação para os líderes maiores.

A verdade não é uma referência filosófica, nem uma referência a uma cosmovisão dualista/ metafísica, em antítese com a mentira. 
Também não era uma indicação de determinada espécie de pessoas, mas era uma referência a doutrina de Cristo. A verdade não seria a realidade divina, mas a ortodoxia, a verdadeira fé, o cristianismo verdadeiro. A verdade é a doutrina verdadeira a respeito de Jesus.

A verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre – Há uma clara
 referência da unidade entre Cristo e seu ensinamento.
 Não é qualquer ensinamento que a igreja recebe. Nem mesmo bons ensinamentos sobre Jesus – mas a verdade sobre Jesus.

Desde o seu início, a igreja enfrentou esta questão do ensino sobre Cristo. 
Há muitos ensinos atraentes sobre Jesus. 
Há o ensino de Jesus como mestre do amor, mestre da paz. Há o ensino sobre Jesus como aquele que compreendeu as pessoas, que foi a melhor das pessoas.
 Há o ensino sobre Jesus como aquele rompeu os dogmas religiosos, que libertou pessoas de amarras, que alegrou os tristes, curou os enfermos, olhou com olhos de compaixão. Tudo isso faz parte do ensino sobre Jesus. 
Mas a verdade sobre Jesus vai além. Ele é o Filho de Deus. Ele é Deus. 
Ele veio ao mundo principalmente para salvar os pecadores. 
Ele foi até a cruz para cumprir a execução do juízo divino, da condenação que caía sobre o pecador. Jesus veio para ser o substituto do pecador. 
Veio para morrer no lugar do pecador. Veio para pagar a punição no lugar do pecador. Ele morreu na cruz, ele ressuscitou.

A verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre – É uma clara referência da unidade entre Cristo e seu ensinamento.
 Não dá pra minimizar o ensino sobre Jesus. Ele é o centro do Evangelho.
 O Evangelho é Deus salvando os pecadores por meio de Jesus. 
A verdade sobre Jesus vai até a cruz onde ele morreu para a nossa justificação. 
A verdade sobre Jesus o glorifica como o ressuscitado. 
A verdade sobre Jesus o faz reinar sobre todos como o Senhor. 
A verdade sobre Jesus anuncia que ele vira para julgar. 
A verdade sobre Jesus anuncia que ele virá
 e haverá a ressurreição para a glória final da história, 
onde os salvos estarão com ele pelas eras eternas.

II  - A IGREJA ESTAVA CONSCIENTE DA NECESSIDADE DE PREGAR O EVANGELHO ESSENCIAL  v.3

Graça, misericórdia, paz de Deus – São as grandes características da pratica da vida cristã. É o exercício do Evangelho. Aquilo que foi recebido e que deve ser transmitido. Graça, misericórdia e paz são referências aos atributos divinos que o torna pessoal e não um deus etéreo e impessoal. O Deus do cristão é pessoal. É o ser por excelência. É o ser por definição e que pode ser conhecido porque se revela. Não é um motor imóvel.

Conforma-se aqui à ideia do Antigo Testamento, que Deus é fiel e misericordioso, apesar dos pecados e infidelidades de Israel. Deus é graça e misericórdia, por isso oferece paz, a reconciliação consigo mesmo como ato de pura graça, um dom gratuito onde a iniciativa é dele.

 A igreja aprende que a espiritualidade cristã, que a devoção cristã não é de busca. O ser humano não busca a Deus para ser um cristão – mas ele se tornou um cristão porque Deus o buscou. Ele foi chamado. Ele foi eficazmente chamado. Ele foi eleito.  Deus buscou o pecador.

  A devoção cristã não é uma caça a Deus. A devoção cristã não se caracteriza por ofertas e oferendas – mas pela resposta ao Deus que ofertou a si mesmo.  Ao Deus que se entregou a si mesmo. Que veio em busca do pecador.O pecador devoto é um achado por Deus, que foi buscado por Deus, resgatado, adotado.

Deus o Pai e Jesus Cristo, o Filho do Pai – Aqui temos mais uma definição da verdade que a igreja deve crer e pregar -  uma declaração da plena divindade do Senhor Jesus – o que era preciso afirmar dada em primeiro lugar a rejeição do judaísmo e em segundo lugar aos que negavam a perfeita divindade do Filho.

A verdade em amor forma uma fórmula que introduz o tema da carta. Em que a verdade e o amor se encontram tematizados. E como vimos anteriormente. A expressão significa que este amor da igreja por Deus e pelas pessoas deve ser animado pela fidelidade à revelação de Deus.  

Graça, misericórdia e paz são nos dado para nossa salvação – em verdade e amor – por Deus Pai e por Jesus Cristo. Deus nos salva por meio de Jesus. 

Este é o evangelho a ser pregado. Deus salva pecadores reconciliando-os consigo mesmo por meio de Jesus. Esta é a graça de Deus. Esta é misericórdia de Deus. Não nos salvamos. Ele nos salva.


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