sábado, 23 de abril de 2022

Uma Igreja Missional, parte 03 - Segunda Carta de João.

 Pregado em 31 de março de 2019

                              



        Uma igreja missional, consciente de sua missão no mundo.

                         EXPOSIÇÃO DA SEGUNDA CARTA DE JOÃO 


v. a graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor.

 

Vimos na primeira exposição que o autor é João, o apóstolo de Jesus. Que João é o mesmo que escreveu o Evangelho de João, as três cartas que levam seu nome e também o Apocalipse.

Vimos também que ele escreve à senhora eleita e seus filhos aos quais ele ama na verdade, ou seja, de acordo com o ensino verdadeiro de Jesus. A senhora eleita é um igreja local, uma comunidade de cristãos em uma determina cidade ou localidade. A verdade é a ortodoxia doutrinária. Ele se autodenomina como “o presbítero”, que era uma referência a sua autoridade espiritual sobre as igrejas. Os demais apóstolos já haviam morrido e ele não se autodenomina mais apóstolo, mas presbítero, o mais antigo dos líderes da igreja.

Esta carta apresenta uma direção para uma igreja local, mas dado ao conteúdo que ela apresenta, também revela o DNA desta igreja local. Esta carta serve de direcionamento para a igreja que quer zelar por fidelidade bíblica, pela centralidade do Evangelho, pela doutrina correta – ortodoxia – e também entender e desenvolver sua missão.

O que vamos ver neste sermão é justamente os elementos que formam a doutrina correta da igreja – ortodoxia – e a missão correta– ortopraxia – para que a igreja seja ao mesmo tempo ortodoxa na doutrina e envolvida com a cultura ao ser corretor para a comunicação do evangelho. A igreja não vai se render à cultura, mas agir nela. Não há risco de a igreja ser assimilada pela cultura da sua localidade, se antes de tudo estiver consciente e firme na doutrina correta e na missão que tem.


V. 3 a graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor.

Aqui temos:

I – A IGREJA CONSCIENTE DO QUE RECEBEU E QUE PODE DAR

Graça, misericórdia, paz de Deus – São as grandes características da pratica da vida cristã. É o exercício do Evangelho. Aquilo que foi recebido e que deve ser transmitido. Graça, misericórdia e paz são referências aos atributos divinos que o torna pessoal e não um deus etéreo e impessoal.

A verdade em amor forma uma fórmula que introduz o tema da carta. Em que a verdade e o amor se encontram tematizados. E como vimos anteriormente. Graça, misericórdia e paz são nos dado para nossa salvação – em verdade e amor – por Deus Pai e por Jesus Cristo. Deus nos salva por meio de Jesus.

O cristão recebe estes dons dos atributos divinos.

A graça remove a culpa. A graça aponta para a liberdade absoluta do amor de Deus para com o pecador incapaz de recebê-lo. Na igreja onde isso é ensinado, a pessoa entende que já está perdoada de seus pecados. Ela entende que é livre. Ele não necessita de cursos para cura, de seminários, de ministrações. Jesus o libertou. É isso que ele vai viver e ensinar aos outros.

A misericórdia remove a miséria. O termo misericórdia é a tradução de eleos – que significa ter compaixão. Aquele que passa óleo na ferida do outro. A misericórdia aponta para a compaixão de Deus pela miséria humana. Deus é misericordioso, provou isso ao ter misericórdia de nós. Esta misericórdia só vai ser provada por nós, na medida em que também a usemos para outros.

A paz expressa a continuidade da graça e da misericórdia. A paz representa a confiança, o descanso no Senhor, a segurança da salvação e a liberdade do acesso a Deus.

Este é o evangelho a ser pregado. Deus salva pecadores reconciliando-os consigo mesmo por meio de Jesus. Esta é a graça de Deus. Esta é misericórdia de Deus. Não nos salvamos. Ele nos salva. Esta é a paz que temos. Assim vive o cristão. Distribuindo graça naturalmente; agindo com misericórdia sem descontinuidade e em paz. Paz espiritual, paz emocional, paz relacional.

Isto se viver em verdade e em amor.

A expressão significa que este amor da igreja por Deus e pelas pessoas deve ser animado pela fidelidade à revelação de Deus.  Não é um amor sem causa ou causado apenas por sentimentos humanos. A causa é o amor de Deus.

Se a causa fosse humanista, não seria uma obrigação, mas uma opção. A causa sendo o amor de Deus, então não é uma opção, mas uma característica do cristão. O cristão ama. Ele pratica o amor gracioso e misericordioso.

 

...da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai,..

II  - A IGREJA CONSCIENTE DA DIVINDADE DO FILHO DE DEUS

O que ele está dizendo é que o ensinamento sobre Cristo é o critério para todos os ensinamentos. Se o ensino sobre Cristo for defeituoso, tudo o mais na igreja também será.

Deus o Pai e Jesus Cristo, o Filho do Pai – Aqui temos mais uma definição da verdade que a igreja deve crer e pregar -  uma declaração da plena divindade do Senhor Jesus – o que era preciso afirmar dada em primeiro lugar a rejeição do judaísmo e em segundo lugar aos que negavam a perfeita divindade do Filho.

Assim como na primeira carta, o presbítero se opõe às falsas doutrinas sobre Jesus Cristo e ensina claramente a divindade de Jesus. Jesus é o Filho de Deus. Jesus sendo Filho de Deus, é Deus.

O Credo Niceno – “Jesus Cristo, Filho único de Deus, gerado do Pai antes de todos os tempos, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por quem todas as coisas foram feitas...”

Credo de Calcedônia - Todos nós, perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, perfeito quanto à humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, constando de alma racional e de corpo; consubstancial [hommoysios] ao Pai, segundo a divindade, e consubstancial a nós, segundo a humanidade; “em todas as coisas semelhante a nós, excetuando o pecado”, gerado segundo a divindade antes dos séculos pelo Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria, mãe de Deus [Theotókos];

O Senhor Jesus Cristo é Deus. O Senhor. A ele servimos. A ele adoramos. Tudo na igreja gira em torno dele. A Igreja bíblica deve ser centrada no Evangelho. Centrada em Jesus. Pra Deus é a glória. As coisas não giram em torno das necessidades humanas, mas da glória de Deus por meio de Jesus. As necessidades humanas serão supridas naturalmente pela providência de Deus que dará provisões necessárias para seus filhos.

A igreja precisa viver Jesus de forma contínua.

Credo de Calcedônia -  Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e imutáveis, inseparáveis e indivisíveis; a distinção da naturezas de modo algum é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência; não dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos transmitiu.

Porque não há menção do Espírito Santo, como na primeira carta? Porque a luta aqui nesta comunidade era pela divindade de Jesus. O presbítero coloca a igualdade de divindade entre o Pai e o Filho por este motivo.

Algumas questões se impõem aqui e devemos considerá-las atentamente.

A verdade sobre Jesus é o critério para tudo na igreja. A primeira pressuposição da igreja verdadeira é a doutrina correta sobre Jesus.

A igualdade da divindade do Pai e do Filho – e entendemos também do Espírito Santo – é a fonte de todas as bênçãos. A igreja bíblica é trinitária. Ela é completa com a realidade da Santíssima Trindade. A devoção cristã é trinitária.

O apego e o zelo pela verdade não deve eliminar, prejudicar ou diminuir a prática do amor aos outros.

Que nosso amor aos outros deve ser naturalmente praticado, mas não deve minar a nossa lealdade à verdade.

“Assim, a comunidade cristã deve ser caracterizada igualmente pelo amor e pela verdade, e devemos evitar a perigosa tendência para o extremismo, dedicando-nos a uma dessas virtudes  a expensas da outra.” John Stott

 O nosso amor amolece, se não for fortalecido pela verdade, e a nossa verdade endurece, se não for suavizada pelo amor.

A verdade deve defendida com amor e o amor deve ser praticado com a verdade.

 

 

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