Pregado em 31 de março de 2019
EXPOSIÇÃO DA
SEGUNDA CARTA DE JOÃO
Vimos na
primeira exposição que o autor é João, o apóstolo de Jesus. Que João é o mesmo
que escreveu o Evangelho de João, as três cartas que levam seu nome e também o
Apocalipse.
Vimos também
que ele escreve à senhora eleita e seus filhos aos quais ele ama na verdade, ou
seja, de acordo com o ensino verdadeiro de Jesus. A senhora eleita é um igreja
local, uma comunidade de cristãos em uma determina cidade ou localidade. A
verdade é a ortodoxia doutrinária. Ele se autodenomina como “o presbítero”, que
era uma referência a sua autoridade espiritual sobre as igrejas. Os demais apóstolos
já haviam morrido e ele não se autodenomina mais apóstolo, mas presbítero, o
mais antigo dos líderes da igreja.
Esta carta
apresenta uma direção para uma igreja local, mas dado ao conteúdo que ela
apresenta, também revela o DNA desta igreja local. Esta carta serve de
direcionamento para a igreja que quer zelar por fidelidade bíblica, pela
centralidade do Evangelho, pela doutrina correta – ortodoxia – e também
entender e desenvolver sua missão.
O que vamos
ver neste sermão é justamente os elementos que formam a doutrina correta da
igreja – ortodoxia – e a missão correta– ortopraxia – para que a igreja seja ao
mesmo tempo ortodoxa na doutrina e envolvida com a cultura ao ser corretor para
a comunicação do evangelho. A igreja não vai se render à cultura, mas agir
nela. Não há risco de a igreja ser assimilada pela cultura da sua localidade,
se antes de tudo estiver consciente e firme na doutrina correta e na missão que
tem.
V. 3 a graça, a misericórdia
e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco
em verdade e amor.
Aqui temos:
I – A IGREJA
CONSCIENTE DO QUE RECEBEU E QUE PODE DAR
Graça,
misericórdia, paz de Deus – São as grandes características da pratica da vida
cristã. É o exercício do Evangelho. Aquilo que foi recebido e que deve ser
transmitido. Graça, misericórdia e paz são referências aos atributos divinos
que o torna pessoal e não um deus etéreo e impessoal.
A verdade em
amor forma uma fórmula que introduz o tema da carta. Em que a verdade e o amor
se encontram tematizados. E como vimos anteriormente. Graça, misericórdia e paz
são nos dado para nossa salvação – em verdade e amor – por Deus Pai e por Jesus
Cristo. Deus nos salva por meio de Jesus.
O cristão
recebe estes dons dos atributos divinos.
A graça
remove a culpa. A graça aponta para a liberdade absoluta do amor de Deus para
com o pecador incapaz de recebê-lo. Na igreja onde isso é ensinado, a pessoa
entende que já está perdoada de seus pecados. Ela entende que é livre. Ele não
necessita de cursos para cura, de seminários, de ministrações. Jesus o
libertou. É isso que ele vai viver e ensinar aos outros.
A
misericórdia remove a miséria. O termo misericórdia é a tradução de eleos – que
significa ter compaixão. Aquele que passa óleo na ferida do outro. A
misericórdia aponta para a compaixão de Deus pela miséria humana. Deus é
misericordioso, provou isso ao ter misericórdia de nós. Esta misericórdia só
vai ser provada por nós, na medida em que também a usemos para outros.
A paz
expressa a continuidade da graça e da misericórdia. A paz representa a
confiança, o descanso no Senhor, a segurança da salvação e a liberdade do acesso
a Deus.
Este é o
evangelho a ser pregado. Deus salva pecadores reconciliando-os consigo mesmo
por meio de Jesus. Esta é a graça de Deus. Esta é misericórdia de Deus. Não nos
salvamos. Ele nos salva. Esta é a paz que temos. Assim vive o cristão.
Distribuindo graça naturalmente; agindo com misericórdia sem descontinuidade e
em paz. Paz espiritual, paz emocional, paz relacional.
Isto se
viver em verdade e em amor.
A expressão
significa que este amor da igreja por Deus e pelas pessoas deve ser animado
pela fidelidade à revelação de Deus. Não
é um amor sem causa ou causado apenas por sentimentos humanos. A causa é o amor
de Deus.
Se a causa
fosse humanista, não seria uma obrigação, mas uma opção. A causa sendo o amor
de Deus, então não é uma opção, mas uma característica do cristão. O cristão
ama. Ele pratica o amor gracioso e misericordioso.
...da parte de Deus Pai e de
Jesus Cristo, o Filho do Pai,..
II - A IGREJA CONSCIENTE DA DIVINDADE DO FILHO DE
DEUS
O que ele
está dizendo é que o ensinamento sobre Cristo é o critério para todos os
ensinamentos. Se o ensino sobre Cristo for defeituoso, tudo o mais na igreja também
será.
Deus o Pai e
Jesus Cristo, o Filho do Pai – Aqui temos mais uma definição da verdade que a
igreja deve crer e pregar - uma
declaração da plena divindade do Senhor Jesus – o que era preciso afirmar dada
em primeiro lugar a rejeição do judaísmo e em segundo lugar aos que negavam a
perfeita divindade do Filho.
Assim como
na primeira carta, o presbítero se opõe às falsas doutrinas sobre Jesus Cristo
e ensina claramente a divindade de Jesus. Jesus é o Filho de Deus. Jesus sendo
Filho de Deus, é Deus.
O Credo Niceno – “Jesus Cristo, Filho único de Deus, gerado
do Pai antes de todos os tempos, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por quem todas as coisas
foram feitas...”
Credo
de Calcedônia - Todos nós,
perfeitamente unânimes, ensinamos que se deve confessar um só e mesmo Filho,
nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito quanto à divindade, perfeito quanto à
humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, constando de alma racional e de
corpo; consubstancial [hommoysios] ao Pai, segundo a divindade, e
consubstancial a nós, segundo a humanidade; “em todas as coisas semelhante a
nós, excetuando o pecado”, gerado segundo a divindade antes dos séculos pelo
Pai e, segundo a humanidade, por nós e para nossa salvação, gerado da Virgem
Maria, mãe de Deus [Theotókos];
O Senhor Jesus Cristo
é Deus. O Senhor. A ele servimos. A ele adoramos. Tudo na igreja gira em torno
dele. A Igreja bíblica deve ser centrada no Evangelho. Centrada em Jesus. Pra
Deus é a glória. As coisas não giram em torno das necessidades humanas, mas da
glória de Deus por meio de Jesus. As necessidades humanas serão supridas
naturalmente pela providência de Deus que dará provisões necessárias para seus
filhos.
A igreja precisa
viver Jesus de forma contínua.
Credo de Calcedônia
- Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor,
Unigênito, que se deve confessar, em duas naturezas, inconfundíveis e
imutáveis, inseparáveis e indivisíveis; a distinção da naturezas de modo algum
é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada natureza
permanecem intactas, concorrendo para formar uma só pessoa e subsistência; não
dividido ou separado em duas pessoas. Mas um só e mesmo Filho Unigênito, Deus
Verbo, Jesus Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito
testemunharam, e o mesmo Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos padres nos
transmitiu.
Porque não há menção
do Espírito Santo, como na primeira carta? Porque a luta aqui nesta comunidade
era pela divindade de Jesus. O presbítero coloca a igualdade de divindade entre
o Pai e o Filho por este motivo.
Algumas questões se
impõem aqui e devemos considerá-las atentamente.
A verdade sobre Jesus
é o critério para tudo na igreja. A primeira pressuposição da igreja verdadeira
é a doutrina correta sobre Jesus.
A igualdade da
divindade do Pai e do Filho – e entendemos também do Espírito Santo – é a fonte
de todas as bênçãos. A igreja bíblica é trinitária. Ela é completa com a
realidade da Santíssima Trindade. A devoção cristã é trinitária.
O apego e o zelo pela
verdade não deve eliminar, prejudicar ou diminuir a prática do amor aos outros.
Que nosso amor aos
outros deve ser naturalmente praticado, mas não deve minar a nossa lealdade à
verdade.
“Assim, a comunidade
cristã deve ser caracterizada igualmente pelo amor e pela verdade, e devemos
evitar a perigosa tendência para o extremismo, dedicando-nos a uma dessas
virtudes a expensas da outra.” John
Stott
O nosso amor amolece, se não for fortalecido
pela verdade, e a nossa verdade endurece, se não for suavizada pelo amor.
A verdade deve
defendida com amor e o amor deve ser praticado com a verdade.
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