domingo, 24 de abril de 2022

Cristãos em comunhão - A terceira carta de João - parte 04

 Pregado em 12 de maio de 2019


CRISTÃO MISSIONAL

EXPOSIÇÃO DA TERCEIRA CARTA DE JOÃO - IV

1 O presbítero ao amado Gaio, a quem eu amo na verdade. 2 Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma. 3 Pois fiquei sobremodo alegre pela vinda de irmãos e pelo seu testemunho da tua verdade, como tu andas na verdade. 4 Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade. 5 Amado, procedes fielmente naquilo que praticas para com os irmãos, e isto fazes mesmo quando são estrangeiros, 6 os quais, perante a igreja, deram testemunho do teu amor. Bem farás encaminhando-os em sua jornada por modo digno de Deus; 7 pois por causa do Nome foi que saíram, nada recebendo dos gentios. 8 Portanto, devemos acolher esses irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade. 9 Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida. 10 Por isso, se eu for aí, far-lhe-ei lembradas as obras que ele pratica, proferindo contra nós palavras maliciosas. E, não satisfeito com estas coisas, nem ele mesmo acolhe os irmãos, como impede os que querem recebê-los e os expulsa da igreja. 11 Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom. Aquele que pratica o bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus. 12 Quanto a Demétrio, todos lhe dão testemunho, até a própria verdade, e nós também damos testemunho; e sabes que o nosso testemunho é verdadeiro. 13 Muitas coisas tinha que te escrever; todavia, não quis fazê-lo com tinta e pena, 14 pois, em breve, espero ver-te. Então, conversaremos de viva voz. 15 A paz seja contigo. Os amigos te saúdam. Saúda os amigos, nome por nome.

A paz de Cristo, é vivida na comunhão dos santos, que é possível somente na igreja.

Este final da carta é um retrato de como a igreja apostólica era na sua funcionalidade prática.

Vimos que a igreja tinha problemas sérios com falsas doutrinas sendo espalhadas e por pastores sem misericórdia e sem testemunho cristão.

Esta carta e o final dela nos ensina sobre a Comunhão dos santos.

Em primeiro lugar a saudação PAZ SEJA CONTIGO – era uma saudação judaica normal – Shalom – a paz de Deus e ao mesmo tempo um desejo por bem estar, saúde, proteção e prosperidade. Mas ela ganha um novo significado em Jesus, após a sua ressurreição. Ele havia dito que haveria de deixar a sua paz como estilo de vida dos discípulos para com Deus. Eles haveriam de viver a paz, mais do que uma saudação judaica.

João 14. 27 Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. 

João 20.19 Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco! 20 E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado. Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor. 21 Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio. 

Efésios 6.23 - Paz seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. 

2 Tess. 3. 16 Ora, o Senhor da paz, ele mesmo, vos dê continuamente a paz em todas as circunstâncias.

1 Pedro 5.14 Saudai-vos uns aos outros com ósculo de amor. Paz a todos vós que vos achais em Cristo.

Em segundo lugar o termo amigo – Os amigos te saúdam e saúda os amigos – Esta designação dos cristãos é única nas cartas e aparece somente aqui no Novo Testamento quando se trata de da igreja. Os cristãos em comunidade preferiam se tratar como irmãos e irmãs. João aqui usa a fórmula de Jesus que chamou os discípulos de amigos.

João 15.12 O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. 13 Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos.14 Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. 15 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. 

Quando ele diz – os amigos aqui te saúdam e saúda os amigos aí – ele dá um toque de pessoalidade única e demonstra extrema comunhão íntima que algumas comunidades viviam.

Em terceiro lugar devemos notar que João fala para Gaio saudar – os amigos “nome por nome”. É como se ele estivesse dizendo – saúda eles, nome por nome, um a um, cada um deles.

Isso é muito significativo para a comunhão da igreja. O cristão não deve perder a sua identidade e importância individual na comunidade.

O Credo Apostólico afirma a – “Comunhão dos Santos” – e sobre esta comunhão que esta saudação final fala.

A partir disso e baseado nos termos usados por João desejo fazer algumas considerações sobre a Comunhão dos Santos.

I – A COMUNHÃO DOS SANTOS É GRAÇA EXTRAORDINÁRIA DE DEUS

É no contexto da vida em comunidade que João faz esta saudação. É no contexto de que esta paz vem de Deus.

Bonhoeffer – “É graça de Deus uma comunidade poder reunir-se neste mundo, de maneira visível, em torno da Palavra de Deus e dos Sacramentos.”

A paz que os cristãos compartilham uns com os outros é uma comunhão celestial. É uma antecipação da vida glorificada.  Para o cristão, a presença física  de outros cristãos, que creem no mesmo Senhor, que participam juntos dos sacramentos é fonte de alegria e fortalecimento incomparáveis. É graça, nada mais do que graça o fato de podermos desfrutar a comunhão entre irmãos crentes.

Martinho Lutero dizia que a comunhão entre os irmãos era – Graça extraordinária, as rosas e lírios da vida cristã.

II – A COMUNHÃO DOS SANTOS É VIVIDA UNICAMENTE POR MEIO DE JESUS CRISTO.

A comunhão dos santos é comunhão por meio de Jesus Cristo e em Jesus Cristo. Não há comunhão cristã que seja mais ou menos do que isto.

A comunhão cristã é isso, que pertencemos uns aos outros tão somente mediante e em Jesus Cristo. Um cristão somente pode chegar a outro cristão por meio de Jesus Cristo. Sem Cristo não reconheceríamos o irmão como irmão nem poderíamos ir ter com ele, conviver com ele. O caminho para o irmão está desbloqueado do eu. Cristo desbloqueou o caminho para Deus e para o irmão.

Recebem a bênção um do outro como se fosse do próprio Senhor, pois um e outro estão em Cristo. É isto que os une, que os torna iguais. Mas somente somos um por intermédio dele. Sem ele somos egoístas perdidos em nossos pecados e autoperdição. Cada um cuidando de seus próprios pecados, dos pecados dos outros, condenando e condenando-se.

III – A COMUNHÃO DOS SANTOS É VIVIVA PLENAMENTE NA IGREJA LOCAL.

Tendo sido unidos e reunidos por meio de Jesus e em Jesus, os crentes podem viver em paz uns com outros, podem amar e servir-se mutuamente.

A comunhão cristã é a comunhão da comunidade dos salvos. É a comunidade,  reunião e a união daqueles que foram eleitos desde a eternidade, aceitos no tempo e unidos para a eternidade. A Igreja local é a reunião daqueles que são unidos por Jesus Cristo para a eternidade. É a comunidade dos salvos. É a Nova Jerusalém, a Nova Cidade, a Cidade de Deus que se forma em torno no nome de Jesus Cristo, da Santa Palavra e dos Sacramentos.

A Escritura nos chama de Corpo de Cristo. Isso significa na prática que fomos eleitos e aceitos em Jesus Cristo com toda a comunidade, que também lhe pertencemos por toda a eternidade. Os que aqui vivemos em sua comunhão, estaremos um dia com ele e com os irmãos em comunhão eterna. Quem olha para seu irmão saiba que estará unido com ele em Jesus Cristo na eternidade.

IV – OPORTUNIDADE DE IMITAR O SENHOR NO EXERCÍCIO DA GRAÇA, MISERICÓRDIA E BENVOLÊNCIA.

O cristão precisa do outro por amor de Jesus Cristo. A comunhão dos santos nos lembra não apenas que precisamos do irmão, mas que o irmão precisa e depende de nós.

Não podemos esquecer a importância de compartilhar  o que temos materialmente com os irmãos.

 Veja o que diz  a CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. Capitulo XXVI – DA COMUNHÃO DOS SANTOS

 II. Os santos são, pela sua profissão, obrigados a manter uma santa sociedade e comunhão no culto de Deus e na observância de outros serviços espirituais que tendam à sua mútua edificação, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo as suas respectivas necessidades e meios; esta comunhão, conforme Deus oferecer ocasião, deve estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar, invocam o nome do Senhor Jesus.

Heb.10.24-25 Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.

I João 3.17;” Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?”

At. 11.29-30. “ Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia; O que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de Barnabé e de Saulo.

III. Esta comunhão que os santos têm com Cristo não os torna de modo algum participantes da substância da sua Divindade, nem iguais a Cristo em qualquer respeito; afirmar uma ou outra coisa, é ímpio e blasfemo. A sua comunhão de uns com os outros não destrói, nem de modo algum enfraquece o título ou domínio que cada homem tem sobre os seus bens e possessões.

Isto não significa dar o que temos aos outros. Não significa também que devemos repartir o que temos com os outros – mas compartilhar – isto é atender às necessidades dos outros, se necessário repartindo o que temos.

A vontade de compartilhar nossos bens é um bom teste da veracidade de nossa comunhão. De fato, isso deve ser algo natural e espontâneo, porque estamos preocupados com todos os membros do corpo de Cristo.

2 Coríntios 8.13-14 – “Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga; mas para que haja igualdade,  suprindo a vossa abundância, no presente, a falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta, e, assim, haja igualdade,”

Os primeiros crentes deram muito valor à comunhão. Não era uma comunidade de cada um por si. Do “vire-se”. Não havia necessitados entre eles. Assim era com os puritanos. Eles formavam comunidades e todos compartilhavam do que tinham para o bem da comunidade.

O nosso texto nos mostra como é ser uma igreja. Precisamos ser amigos de cada um. Precisamos saber o nome de cada. As necessidades de cada. Os problemas e os pecados de cada. E viver a Paz de Cristo de verdade, em profundidade, em realidade na vida – no dia a dia com os outros – para a glória de Deus.

 

 

 

 

 

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