Pregado em 12 de maio de 2019
EXPOSIÇÃO DA TERCEIRA CARTA DE
JOÃO - IV
1 O presbítero ao amado Gaio, a quem eu amo na verdade. 2 Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma. 3 Pois fiquei sobremodo alegre pela vinda de irmãos e pelo seu testemunho da tua verdade, como tu andas na verdade. 4 Não tenho maior alegria do que esta, a de ouvir que meus filhos andam na verdade. 5 Amado, procedes fielmente naquilo que praticas para com os irmãos, e isto fazes mesmo quando são estrangeiros, 6 os quais, perante a igreja, deram testemunho do teu amor. Bem farás encaminhando-os em sua jornada por modo digno de Deus; 7 pois por causa do Nome foi que saíram, nada recebendo dos gentios. 8 Portanto, devemos acolher esses irmãos, para nos tornarmos cooperadores da verdade. 9 Escrevi alguma coisa à igreja; mas Diótrefes, que gosta de exercer a primazia entre eles, não nos dá acolhida. 10 Por isso, se eu for aí, far-lhe-ei lembradas as obras que ele pratica, proferindo contra nós palavras maliciosas. E, não satisfeito com estas coisas, nem ele mesmo acolhe os irmãos, como impede os que querem recebê-los e os expulsa da igreja. 11 Amado, não imites o que é mau, senão o que é bom. Aquele que pratica o bem procede de Deus; aquele que pratica o mal jamais viu a Deus. 12 Quanto a Demétrio, todos lhe dão testemunho, até a própria verdade, e nós também damos testemunho; e sabes que o nosso testemunho é verdadeiro. 13 Muitas coisas tinha que te escrever; todavia, não quis fazê-lo com tinta e pena, 14 pois, em breve, espero ver-te. Então, conversaremos de viva voz. 15 A paz seja contigo. Os amigos te saúdam. Saúda os amigos, nome por nome.
A paz de Cristo, é vivida na comunhão dos santos, que é possível somente na igreja.
Este final da carta é um retrato
de como a igreja apostólica era na sua funcionalidade prática.
Vimos que a igreja tinha
problemas sérios com falsas doutrinas sendo espalhadas e por pastores sem
misericórdia e sem testemunho cristão.
Esta carta e o final dela nos
ensina sobre a Comunhão dos santos.
Em primeiro
lugar a saudação PAZ SEJA CONTIGO – era uma saudação judaica normal – Shalom –
a paz de Deus e ao mesmo tempo um desejo por bem estar, saúde, proteção e
prosperidade. Mas ela ganha um novo significado em Jesus, após a sua
ressurreição. Ele havia dito que haveria de deixar a sua paz como estilo de
vida dos discípulos para com Deus. Eles haveriam de viver a paz, mais do que uma
saudação judaica.
João 14. 27 Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo.
Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
João 20.19 Ao cair da tarde daquele dia, o primeiro da semana, trancadas as portas
da casa onde estavam os discípulos com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se no
meio e disse-lhes: Paz seja convosco! 20
E, dizendo isto, lhes mostrou as mãos e o lado.
Alegraram-se, portanto, os discípulos ao verem o Senhor. 21
Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Paz seja
convosco! Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio.
Efésios 6.23 - Paz
seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus
Cristo.
2 Tess. 3.
16 Ora, o Senhor da paz, ele mesmo, vos dê continuamente
a paz em todas as circunstâncias.
1 Pedro 5.14
Saudai-vos uns aos outros com ósculo de amor. Paz a todos vós que vos achais em
Cristo.
Em segundo lugar o termo amigo – Os
amigos te saúdam e saúda os amigos – Esta designação dos cristãos é única nas
cartas e aparece somente aqui no Novo Testamento quando se trata de da igreja.
Os cristãos em comunidade preferiam se tratar como irmãos e irmãs. João aqui
usa a fórmula de Jesus que chamou os discípulos de amigos.
João 15.12 O meu
mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos
amei. 13 Ninguém tem maior amor do que este: de dar
alguém a própria vida em favor dos seus amigos.14 Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando. 15 Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor;
mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado
a conhecer.
Quando ele diz – os amigos aqui te saúdam e saúda os amigos aí – ele dá
um toque de pessoalidade única e demonstra extrema comunhão íntima que algumas
comunidades viviam.
Em terceiro lugar devemos notar que João fala para Gaio saudar – os
amigos “nome por nome”. É como se ele estivesse dizendo – saúda eles, nome por
nome, um a um, cada um deles.
Isso é muito significativo para a comunhão da igreja. O cristão não deve
perder a sua identidade e importância individual na comunidade.
O Credo Apostólico afirma a – “Comunhão dos Santos” – e sobre esta
comunhão que esta saudação final fala.
A partir disso e baseado nos termos usados por João desejo fazer algumas
considerações sobre a Comunhão dos Santos.
I – A COMUNHÃO DOS SANTOS É GRAÇA EXTRAORDINÁRIA DE DEUS
É no contexto da vida em comunidade que João faz esta saudação. É no
contexto de que esta paz vem de Deus.
Bonhoeffer – “É graça de Deus uma comunidade poder reunir-se neste
mundo, de maneira visível, em torno da Palavra de Deus e dos Sacramentos.”
A paz que os cristãos compartilham uns com os outros é uma comunhão
celestial. É uma antecipação da vida glorificada. Para o cristão, a presença física de outros cristãos, que creem no mesmo
Senhor, que participam juntos dos sacramentos é fonte de alegria e
fortalecimento incomparáveis. É graça, nada mais do que graça o fato de
podermos desfrutar a comunhão entre irmãos crentes.
Martinho Lutero dizia que a comunhão entre os irmãos era – Graça
extraordinária, as rosas e lírios da vida cristã.
II – A COMUNHÃO DOS SANTOS É VIVIDA UNICAMENTE POR MEIO DE JESUS CRISTO.
A comunhão dos santos é comunhão por meio de Jesus Cristo e em Jesus
Cristo. Não há comunhão cristã que seja mais ou menos do que isto.
A comunhão cristã é isso, que pertencemos uns aos outros tão somente
mediante e em Jesus Cristo. Um cristão somente pode chegar a outro cristão por
meio de Jesus Cristo. Sem Cristo não reconheceríamos o irmão como irmão nem
poderíamos ir ter com ele, conviver com ele. O caminho para o irmão está
desbloqueado do eu. Cristo desbloqueou o caminho para Deus e para o irmão.
Recebem a bênção um do outro como se fosse do próprio Senhor, pois um e
outro estão em Cristo. É isto que os une, que os torna iguais. Mas somente somos
um por intermédio dele. Sem ele somos egoístas perdidos em nossos pecados e
autoperdição. Cada um cuidando de seus próprios pecados, dos pecados dos
outros, condenando e condenando-se.
III – A COMUNHÃO DOS SANTOS É VIVIVA PLENAMENTE NA IGREJA LOCAL.
Tendo sido unidos e reunidos por meio de Jesus e em Jesus, os crentes
podem viver em paz uns com outros, podem amar e servir-se mutuamente.
A comunhão cristã é a comunhão da comunidade dos salvos. É a
comunidade, reunião e a união daqueles
que foram eleitos desde a eternidade, aceitos no tempo e unidos para a
eternidade. A Igreja local é a reunião daqueles que são unidos por Jesus Cristo
para a eternidade. É a comunidade dos salvos. É a Nova Jerusalém, a Nova
Cidade, a Cidade de Deus que se forma em torno no nome de Jesus Cristo, da
Santa Palavra e dos Sacramentos.
A Escritura nos chama de Corpo de Cristo. Isso significa na prática que
fomos eleitos e aceitos em Jesus Cristo com toda a comunidade, que também lhe
pertencemos por toda a eternidade. Os que aqui vivemos em sua comunhão,
estaremos um dia com ele e com os irmãos em comunhão eterna. Quem olha para seu
irmão saiba que estará unido com ele em Jesus Cristo na eternidade.
IV – OPORTUNIDADE DE IMITAR O SENHOR NO EXERCÍCIO DA GRAÇA, MISERICÓRDIA E BENVOLÊNCIA.
O cristão precisa do outro por amor de Jesus
Cristo. A comunhão dos santos nos lembra não apenas que precisamos do irmão,
mas que o irmão precisa e depende de nós.
Não podemos esquecer a
importância de compartilhar o que temos materialmente com os irmãos.
Veja o que
diz a CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER. Capitulo XXVI – DA COMUNHÃO
DOS SANTOS
II. Os santos
são, pela sua profissão, obrigados a manter uma santa sociedade e comunhão no
culto de Deus e na observância de outros serviços espirituais que tendam à sua
mútua edificação, bem como a socorrer uns aos outros em coisas materiais, segundo
as suas respectivas necessidades e meios; esta comunhão, conforme Deus oferecer
ocasião, deve estender-se a todos aqueles que em qualquer lugar, invocam o nome
do Senhor Jesus.
Heb.10.24-25 Consideremo-nos
também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não
deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos
admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.
I João 3.17;” Ora,
aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade,
e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?”
At. 11.29-30. “ Os
discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos
irmãos que moravam na Judéia; O que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos
presbíteros por intermédio de Barnabé e de Saulo.
III. Esta comunhão que
os santos têm com Cristo não os torna de modo algum participantes da substância
da sua Divindade, nem iguais a Cristo em qualquer respeito; afirmar uma ou
outra coisa, é ímpio e blasfemo. A sua comunhão de uns com os outros não
destrói, nem de modo algum enfraquece o título ou domínio que cada homem tem
sobre os seus bens e possessões.
Isto não significa dar o
que temos aos outros. Não significa também que devemos repartir o que temos com
os outros – mas compartilhar – isto é atender às necessidades dos outros, se
necessário repartindo o que temos.
A vontade de
compartilhar nossos bens é um bom teste da veracidade de nossa comunhão. De
fato, isso deve ser algo natural e espontâneo, porque estamos preocupados com
todos os membros do corpo de Cristo.
2 Coríntios 8.13-14
– “Porque não é para que os outros tenham alívio, e vós, sobrecarga;
mas para que haja igualdade, suprindo a vossa abundância, no presente, a
falta daqueles, de modo que a abundância daqueles venha a suprir a vossa falta,
e, assim, haja igualdade,”
Os primeiros crentes
deram muito valor à comunhão. Não era uma comunidade de cada um por si. Do
“vire-se”. Não havia necessitados entre eles. Assim era com os puritanos. Eles
formavam comunidades e todos compartilhavam do que tinham para o bem da
comunidade.
O nosso texto nos mostra
como é ser uma igreja. Precisamos ser amigos de cada um. Precisamos saber o
nome de cada. As necessidades de cada. Os problemas e os pecados de cada. E
viver a Paz de Cristo de verdade, em profundidade, em realidade na vida – no
dia a dia com os outros – para a glória de Deus.
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