sexta-feira, 22 de abril de 2022

Uma Igreja Missional - parte 02 - Exposição da Segunda Carta de João.

 Pregado em 24 de março de 2019 ( A introdução modificada, para outro grupo diferente do primeiro sermão)





EXPOSIÇÃO DA SEGUNDA CARTA DE JOÃO – PARTE 02

UMA IGREJA MISSIONAL, IGREJA CONSCIENTE DE SUA MISSÃO NO MUNDO.


Esta pequena carta atribuída a João, o apóstolo é pequena apenas no tamanho mas de um conteúdo fundamental para aplicação na igreja em qualquer tempo.  O conteúdo é quase o mesmo da terceira carta e devem mesmo ser lidas juntas. A Segunda Carta é escrita do Presbítero à Senhora eleita. Provavelmente endereçada à uma igreja local em sua totalidade para adverti-la sobre o ensino dos falsos mestres.

John Stott comenta que a senhora eleita, “provavelmente signifique uma personificação e não uma pessoa – não da igreja em geral, mas de alguma igreja local sobre a qual a jurisdição do presbítero era reconhecida, sendo seus filhos, os membros individuais da igreja’

Stott argumenta que a linguagem de amor pessoal por uma senhora e seus filhos como um “mandamento que tivemos desde o princípio (v.5), não sugere um indivíduo mais do que o faz  a linguagem, a não ser que imaginemos que ela era uma viúva com numerosos filhos, dos quais somente alguns (v.4), estavam seguindo a verdade, enquanto outros haviam caído no erro. Outro fato é que o tratamento dos falsos mestres itinerantes pode ser aplicável a todo lar cristão, mas mais provável que tenha sido dirigida à comunidade cristã e não a algum dos seus lares. 

Por isso, entendemos a vamos fazer a exposição neste pressuposto de que a senhora eleita é uma igreja local.

v.1 e v.13

Em 1 Pedro 5.13 há uma linguagem semelhante que certamente se refere a uma igreja, sendo que babilônia seria uma referência simbólica a Roma – “ Aquela que se encontra em Babilônia, também eleita, vos saúda, como igualmente meu filho Marcos.”

Dito isso, neste pequeno texto temos as recomendações a esta igreja, os cuidados com ela e as recomendações do apóstolo. O que vemos é a descrição do DNA desta igreja. Amo mesmo tempo que a carta são recomendações, nelas vemos a essência desta igreja.

A IGREJA CONSCIENTE DE SUA ELEIÇÃO E MISSÃO – A DA PRÁTICA DA VERDADE E DO AMOR.

1 O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade,

2 por causa da verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre,

 O presbítero – esta é a identificação do autor. O presbítero no final do primeiro século, era um líder espiritual da igreja da mais alta grandeza. Alguém que era tido em maior consideração do que o bispo. Até os anos 60, o presbítero era o pastor de um grupo específico e o bispo um líder de outros presbíteros (ver por exemplo 1 Pe 5.1). Nos anos 80, o presbítero era alguém que possuía uma estatura espiritual reconhecida e era, por assim dizer maior do que o bispo. A figura do presbítero a partir do segundo século passou a ser mais simbólica do um cargo ou função. Era usado em caráter informal como um destaque honroso. Nos anos 80 João era o único apóstolo vivo e ele não usa este termo – pois o termo presbítero havia substituído esta designação para os líderes maiores. 

A verdade não é uma referência filosófica, nem uma referência a uma cosmovisão dualista/ metafísica, em antítese com a mentira. Também não era uma indicação de determinada espécie de pessoas, mas era uma referência a doutrina de Cristo. A verdade não seria a realidade divina, mas a ortodoxia, a verdadeira fé, o cristianismo verdadeiro. A verdade é a doutrina verdadeira a respeito de Jesus.

A verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre – Há uma clara referência da unidade entre Cristo e seu ensinamento. Não é qualquer ensinamento que a igreja recebe. Nem mesmo bons ensinamentos sobre Jesus – mas a verdade sobre Jesus.

Desde o seu início, a igreja enfrentou esta questão do ensino sobre Cristo. Há muitos ensinos atraentes sobre Jesus. Há o ensino de Jesus como mestre do amor, mestre da paz. Há o ensino sobre Jesus como aquele que compreendeu as pessoas, que foi a melhor das pessoas. Há o ensino sobre Jesus como aquele rompeu os dogmas religiosos, que libertou pessoas de amarras, que alegrou os tristes, curou os enfermos, olhou com olhos de compaixão. Tudo isso faz parte do ensino sobre Jesus. Mas a verdade sobre Jesus vai além. Ele é o Filho de Deus. Ele é Deus. Ele veio ao mundo principalmente para salvar os pecadores. Ele foi até a cruz para cumprir a execução do juízo divino, da condenação que caía sobre o pecador. Jesus veio para ser o substituto do pecador. Veio para morrer no lugar do pecador. Veio para pagar a punição no lugar do pecador. Ele morreu na cruz, ele ressuscitou.

A verdade é Jesus – como diz o Credo Niceno - um só Senhor Jesus Cristo, Filho único de Deus, gerado do Pai antes de todos os tempos, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai, por quem todas as coisas foram feitas, o qual por nós homens e para nossa salvação desceu do Céu, e encarnou pelo Espírito Santo e da Virgem Maria e se fez homem, e por nossa causa foi crucificado, e ressurgiu de novo ao terceiro dia segundo as Escrituras, e subiu ao Céu e está sentado à mão direita do Pai, e virá de novo em sua glória para julgar os vivos e os mortos, e cujo Reino não terá fim;

Como diz o Credo Apostólico - Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao inferno; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos.

A verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre – É  uma clara referência da unidade entre Cristo e seu ensinamento. 

Não dá pra minimizar o ensino sobre Jesus. Ele é o centro do Evangelho.

 O Evangelho é Deus salvando os pecadores por meio de Jesus.

 Um Deus pessoal que salva se relaciona com os pecadores que quer salvar.

Conforma-se aqui à ideia do Antigo Testamento, que Deus é fiel e misericordioso, apesar dos pecados e infidelidades de Israel. Deus é graça e misericórdia, por isso oferece paz, a reconciliação consigo mesmo como ato de pura graça, um dom gratuito onde a iniciativa é dele.

 A igreja aprende que a espiritualidade cristã, que a devoção cristã não é de busca. 

O ser humano não busca a Deus para ser um cristão – mas ele se tornou um cristão porque Deus o buscou.

 Ele foi chamado. 

Ele foi eficazmente chamado. 

Ele foi eleito.

 Deus buscou o pecador. A devoção cristã não é uma caça a Deus. A devoção cristã não se caracteriza por ofertas e oferendas – mas pela resposta ao Deus que ofertou a si mesmo. Ao Deus que se entregou a si mesmo. Que veio em busca do pecador.

O pecador devoto é um achado por Deus, que foi buscado por Deus, resgatado, adotado.

A verdade sobre Jesus vai até a cruz onde ele morreu para a nossa justificação. A verdade sobre Jesus o glorifica como o ressuscitado. 

A verdade sobre Jesus o faz reinar sobre todos como o Senhor. 

A verdade sobre Jesus anuncia que ele vira para julgar.

 A verdade sobre Jesus anuncia que ele virá 

e haverá a ressurreição para a glória final da história, 

onde os salvos estarão com ele pelas eras eternas.

O Deus do cristão é pessoal. É o ser por excelência.

 É o ser por definição e que pode ser conhecido porque se revela. 

Não é um motor imóvel.

 


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