sábado, 23 de abril de 2022

Uma igreja missional, parte 04 - Segunda Carta de João.

 

Pregado em 07 de abril de 2019



Igreja Missional, Igreja consciente de sua missão no mundo

     EXPOSIÇÃO DA SEGUNDA CARTA DE JOÃO – Sermão 04

 vs. 4,5 - Fiquei sobremodo alegre em ter encontrado dentre os teus filhos os que andam na verdade, de acordo com o mandamento que recebemos da parte do Pai. 5E agora, senhora, peço-te, não como se escrevesse mandamento novo, senão o que tivemos desde o princípio: que nos amemos uns aos outros.

 

No dias de hoje, o amor de Deus é geralmente entendido como algo universal, indiscriminado e incondicional. E por trás desta concepção está geralmente a centralidade do ser humano.

Temos feito do amor um ídolo que nos serve e, desse modo, redefinido o amor como algo que jamais impõe julgamentos, condições ou ligações obrigatórias.

Contudo, nas Escrituras encontramos a verdade de que o amor é totalmente centrado em Deus, o que significa que é mais complexo do a concepção comum poderia imaginar. Ele só faz sentido com a verdade. Ele combina salvação e julgamento. Ele é gracioso e discriminatório. O amor de Deus não é incondicional. Ele muda o exterior e o interior. Deus é amor e o amor necessariamente vem de Deus e só é verdadeiro o amor que tem Deus como fonte. O amor é um anseio por aquilo que nos falta.

Para Platão o amor tem a função de unir. Nossas almas estão separadas umas das outras, e o amor constrói uma ponte entre elas. Mas para Platão Deus ou os deuses não amavam. Se o amor era um anseio por aquilo que faltava ao ser e se não falta nada a Deus, logo, Deus, ou os deuses não devem amar (symposium).

Para Agostinho o amor é o movimento da alma em busca de algum bem. Ele fala do amor como uma afeição poderosa. Mas ele diferente de Platão começa com os atributos de Deus e com a definição bíblica de que “Deus é amor”. Segundo Agostinho a Santíssima Trindade é a gênese onde o amor é pratica. O Pai ama o Filho, que ama o Pai por meio das Afeições que se movem por meio do Espírito. Amor é doação de si mesmo. O amor de Deus não é busca por algo – mas a doação de si mesmo. O amor, portanto é Deus doando a si mesmo. O amor, portanto, é Deus vindo de Deus. A Trindade

Segundo Agostinho – você deve amar tendo como referência o amor a Cristo, e preocupar-se com eles tendo como referência o amor a Deus; e não amar nada que seja o Cristo; e odiar tudo naqueles que lhe são mais próximos e mais queridos, se eles não quiserem saber de Cristo.

Devemos amar a Deus por causa de Deus, e devemos amar o nosso próximo por causa de Deus. Não devo amar você por sua causa. Demo amá-lo por causa de Deus, porque você pertence a ele.

Agostinho – Ama-te muito pouco aquele que ama outra coisa junto contigo, a qual ele ama não por tua causa. Confissões

O amor centrado em qualquer coisa que não seja Deus é oposto do amor; Se amarmos as pessoas por outra razão, nós as odiaremos mais do que amaremos.

O amor puro é o movimento da alma na direção do prazer de Deus, por causa dele mesmo, e também na direção do prazer da própria pessoa e deu próximo por causa de Deus. A cobiça é um movimento da alma na direção do prazer da própria pessoa. De seu próximo ou de qualquer outro ser existente, por causa de outra coisa que não seja Deus. - Sobre a Doutrina Cristã

I - A IGREJA CONSCIENTE DE QUE DEVE PRATICAR A VERDADE COMO MANDAMENTO.

4 Fiquei sobremodo alegre em ter encontrado dentre os teus filhos os que andam na verdade, de acordo com o mandamento que recebemos da parte do Pai.

O presbítero se alegra por ter encontrado na igreja o amor pelos mandamentos e a prática dos mandamentos. Andar em amor é um mandamento. Agora  ele  também diz que andar na verdade é um mandamento.

O amor às pessoas não deve estar separado de nosso amor pelos mandamentos.

Amar ao próximo faz parte da Lei.

“O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da Lei é o amor” Rm 13.10

Amar as pessoas sem amar o mandamentos nos torna meros praticantes de obras. Nos torna altruístas, humanitários, ativistas de alguma ideologia. O cristão ama as pessoas, como extensão do amor de Deus em nós.

Não se pode ser um  cristão verdadeiramente devoto sem amor aos mandamentos.

O Salmo 119 é uma grande declaração apaixonada, uma celebração da Lei

Veja por exemplo estas declarações do Salmo 119. 126 Já é tempo, Senhor, para intervires, pois a tua lei está sendo violada. 127 Amo os teus mandamentos mais do que o ouro, mais do que o ouro refinado. 128 Por isso, tenho por, em tudo, retos os teus preceitos todos e aborreço todo caminho de falsidade. 129 Admiráveis são os teus testemunhos;

por isso, a minha alma os observa.

A igreja bíblica e saudável é ensinada sobre os mandamentos do Senhor e é ensinada a amar os mandamentos. Faz parte da vida devocional da igreja amar e praticar os mandamentos. O cristão amadurece ao aprender sobre a perfeição da lei de Deus. A igreja bíblica e saudável não será legalista, pois ela não vai ensinar que a Lei salva – não vai ser ensinada sobre méritos. Ela vai ser ensinada sobre a suficiência da obra de Cristo.

A Igreja bíblica e saudável, ser vai ensinada que os mandamentos são para a santificação da vida.

São para a formação da cultura devocional da igreja.

“..andam na verdade, de acordo com o mandamento que recebemos da parte do Pai.’

A verdade não é apenas a crença naquilo é verdadeiro. Não é apenas uma adesão ao verdadeiro. Se fosse sermos moralistas bastaria.

Não é apenas ter um código de ética – A máfia também tem um código de ética. As gangues também tem um código de ética.

A igreja não tem uma lista moralista de isso pode, aquilo não pode.

A igreja tem os mandamentos. Eles vêm de Deus.

Deus nos deu mandamentos como prova de amor. Os mandamentos são demonstrações de amor de Deus por nós.

Nossa moralidade própria não nos mantém longe dos atos abomináveis que ofendem a Deus.

Como seria se não houvesse os mandamentos de Adorar somente a Deus? A idolatria seria infinitamente mais praticada do que jamais foi.

O nome de Deus não seria reverenciado. Não haveria um dia de culto nunca. Não haveria obediência aos pais. O sexo seria livre. Não haveria nenhum respeito pelo próximo.

Graças a Deus pelos mandamentos.

Mesmo os pagãos têm escrito os mandamentos de Deus na sua índole, que é a consciência.

Agostinho - "Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Eis que estavas dentro e eu fora. Estavas comigo e não eu contigo. Exalaste perfume e respirei. Agora anseio por Ti. Provei-Te, e tenho fome e sede. Tocaste-me e ardi por Tua paz”. Confissões

Agostinho coloca a verdade como algo superior ao homem, inclusive à própria razão:

Agostinho - “Eu tinha prometido, se te lembras, de haver de provar que existe uma realidade muito mais sublime do que a nossa mente e nossa razão. Ei-la diante de ti: é a própria Verdade!” – O Livre arbítrio

II - A IGREJA CONSCIENTE DE QUE O AMOR É UMA CAMINHO PARA ANDAR, NÃO APENAS UMA AFEIÇÃO PARA SENTIR  - v.5 E agora, senhora, peço-te, não como se escrevesse mandamento novo, senão o que tivemos desde o princípio: que nos amemos uns aos outros.

6 E o amor é este: que andemos segundo os seus mandamentos. Este mandamento, como ouvistes desde o princípio, é que andeis nesse amor.

Um dos pontos mais importantes na cultura de uma igreja local e que vai formar um DNA missional é o amor praticado.

Amar o próximo é um mandamento antigo. Esse mandamento aparece pela primeira vez na declaração dos mandamentos no Sinai. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” Levítico 19.18

Este mandamento é resultado de um outro maior – “amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força” Dt 6.5

Ele diz que este não é um mandamento novo, mas é o mandamento que forma a igreja, a própria identidade cristã. O que ele está afirmando é que tudo começa com Jesus e termina com Jesus. Jesus é o início, o meio e o fim de tudo na igreja. Jesus é a fim finalidade de cada ato da igreja.  O cristão é um seguidor de Jesus. E Jesus acima de tudo amou os seus. Ele entregou-se pelos seus.

João 13.1 Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim. 

João 13. 34 - Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros. 35 Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros.

O amor aos irmãos é uma espécie de antídoto ao ensino dos falsos mestres, pois o amor é um mandamento que vem do próprio Senhor Jesus desde o inicio da igreja. Quando há amor na igreja, os falsos mestres passam a ter pouco espaço. O amor entre os irmãos anula os maus sentimentos, como iras, contendas, disputas etc.

O amor é uma conduta. É uma forma de viver. Uma forma da igreja ser igreja e fazer o que Jesus mandou  e viver da forma que Jesus viveu.

  1 Jo 2.6 aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou. O antigo e o novo mandamentos: o amor fraternal 7 Amados, não vos escrevo mandamento novo, senão mandamento antigo, o qual, desde o princípio, tivestes. Esse mandamento antigo é a palavra que ouvistes.

É possível uma igreja ser aparentemente boa. Ter boa estrutura, ter recursos, ter boa música, pregadores preparados etc. Mas a igreja na igreja as pessoas precisam amar. A igreja precisa amar as pessoas. Amar os pecadores. Amar os necessitados. A igreja precisa fazer do amor uma forma de andar. É preciso ter uma cultura de amor. Amor é dedicação, entrega e sacrifício pelos outros.

Uma igreja missional ama. Ama ou não é missional. É preciso amar as pessoas como ela se apresentam. Antes de mudar uma pessoa, adequando à cultura que gostaríamos, devemos amar esta pessoa. Acolher esta pessoa e amar até o fim. Amar em Cristo é amar como Cristo. Nós somos Cristo na vida das pessoas. Ou é assim ou não somos uma igreja missional.

O amor é – andar segundo os mandamentos. Que não ama assim, não anda segundo os mandamentos.

O amor é andar nesse amor – amar é obedecer aos mandamentos e obedecer os mandamentos é amar.

Amar quem? Uns aos outros. Este irmão que se faz parte da igreja. Aquele que vai chegar. A igreja precisa ser um ambiente que mostra o céu para as pessoas. Que mostre Deus ás pessoas. Que mostra Jesus às pessoas. Onde Deus está neste mundo? Nesta igreja. Onde o Espírito Santo está neste mundo? Nesta igreja. Onde Jesus está neste mundo? Nesta igreja.

O propósito do amor para o cristão são duas coisas: A glória de Deus e abençoar o outro.

Deus é o bem que deveríamos amorosamente pelo amor deseja aos outros. Nós amamos melhor ao próximo, ao intimo e ao inimigo quando desejamos que eles conheçam a glória de Deus.

CONCLUSÕES

O amor que não é centrado em Deus é centrado na satisfação. Ama-se para satisfação própria ou do outro.

O amor que busca satisfação, jamais estará satisfeito.

O amor centrado em Deus ama adotar uma postura que se opõe o que se opõe a Deus. O amor centrado em Deus não ama o pecado. O amor verdadeiro odeia qualquer perversão a este amor.  O amor centrado em Deus requer que admoestemos e até disciplinemos as próprias pessoas que amamos. Isso é amor.

Se não buscamos o bem da outra pessoa, nosso amor vai conduzi-la ao verdadeiro. Não é amar permitir o erro na pessoa. Não é amar permitir o pecado na pessoa que se ama – seja o irmão, o cônjuge ou filhos.

 

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