quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Série sobre O Pai Nosso - 1º Sermão - A oração - Exposição do Breve Catecismo - pergunta 99


Pregado em 13 de maio de 2018 - na Capela Missional - Igreja Cristã de Confissão Reformada em Porto Alegre



PERGUNTA 99. Qual é a regra que Deus nos deu para nos dirigir em oração?
R. Toda palavra de Deus é útil para nos dirigir em oração, mas a regra especial de direção é aquela forma de oração que Cristo ensinou aos seus discípulos, e que geralmente se chama a Oração Dominical.

         O PAI NOSSO, A ORAÇÃO COMO ENSINADA PELO SENHOR.
Mateus 6.9-13 - Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;  o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;  e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores;  e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal. Pois teu é o Reino, o Poder e a Glória, para sempre. Amém

A oração verdadeira vem de Deus para nos dirigir a Deus.

A oração verdadeira é prescrita pelo próprio Deus. Ele mesmo nos ensina como orar. A Bíblia é a Palavra de Deus, onde ele revela a si mesmo a nós. Revela tudo sobre nós mesmos. Revela também sua vontade a nós.  É na sua Palavra que aprendemos que podemos orar. Então é uma revelação de Deus a nós. É na sua Palavra que ele nos ensina sobre o que é a oração e como devemos orar.
O texto de Lucas nos dá detalhes sobre como se originou a oração do Senhor. Os discípulos  vendo Jesus orar, pedem que lhes ensinem.
Lucas 11.1 – De uma certa feita, estava Jesus orando em certo lugar; quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: Senhor, ensina-nos a orar ..” Jesus então, lhes ensina-os com a oração que conhecemos como a oração dominical, ou oração do Senhor.
Jesus não inventou nada nesta oração – mas usou somente conceitos que estavam na Palavra. Deus sempre foi Pai para seu povo.
Deuteronômio 32.6 - É assim que recompensas ao SENHOR, povo louco e ignorante? Não é ele teu pai, que te adquiriu, te fez e te estabeleceu?
Deus é chamado de Santo inúmeras vezes no Antigo Testamento. O Reino de Deus, sua vontade, a provisão de pão, o perdão, o livramento – todos são conceitos da Palavra de Deus no Antigo Testamento.
Jesus não estava inventando palavras para orar, ele estava simplesmente orando o que estava na Palavra.
Temos insistido que a verdadeira oração é o uso da Palavra de Deus para falarmos com ele. Ele nos ensina a orar por meio de sua Palavra.
Nesta oração do Senhor, que é para nós a oração modelo e o modelo de oração, temos apresentados de forma concreta, os ensinamentos da Bíblia acerca da oração. É uma oração que incorpora aquilo que a Bíblia ensina sobre a oração.
Podemos e devemos repetir sempre a oração que o Senhor nos ensinou, mas não é a única oração que podemos fazer. Ela é um modelo para moldar nossa oração.
A oração do Pai Nosso é a expressão da misericórdia divina em prover-nos uma forma modelar de oração (Calvino).
Mais uma vez afirmo que podemos e devemos orar o Pai nosso todos os dias, isso não é errado, pelo contrário, é verdadeira oração e oração verdadeira. Mas ela deve ir além, ela deve nos conduzir nas palavras de nossa oração. Temos muitas outras orações no Novo Testamento. Temos mais orações do próprio Senhor, temos orações de Pedro e de Paulo em Atos. Temos orações de Paulo nas Cartas. Temos orações em Apocalipse.
O que Jesus quer nos ensinar além da própria oração que ele fez é a linguagem da nossa oração e conteúdo da nossa oração.
"Deus, demonstrando sua imensa bondade e benevolência, além de nos advertir que devemos o buscar em todas as nossas necessidades, como filhos se refugiam na proteção dos pais e vendo que não podíamos sequer entender a profundidade de nossas necessidades e misérias, deu à nossa ignorância o que faltava à nossa capacidade. De si mesmo supriu tudo o que nos faltava, pois prescreveu-nos uma fórmula, pela qual nos propôs tudo quanto dele é lícito buscar, tudo quanto conduz ao nosso bem e tudo quanto é necessário suplicar. "(Calvino)
"Por meio da oração do Pai Nosso – compreendemos que não lhe suplicamos nada que seja ilícito, nada que seja estranho ou inoportuno, enfim, nada que não lhe seja aceitável, porquanto estamos rogando quase que de sua própria boca e com suas próprias palavras. "(Calvino)
Jesus ensinou aos seus discípulos não somente como orar, mas também o que orar (Bonhoeffer).
O Pai Nosso não é um exemplo de oração para os discípulos. Jesus quer que orem como ele ensinou. O Pai Nosso é a oração. Os limites da oração estão na oração do Pai nosso. Ela é a oração, porque não há mais nada que podemos ou precisamos orar além do que está prescrito na oração do Senhor.

A oração do Pai Nosso pode ser dividida em três partes:

 A PRIMEIRA PARTE É SOBRE DEUS - Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome;  venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu;  
1 – Reconhecimento de quem é nosso Deus – Pai nosso.
2 -  A glória de Deus – que estás nos céus.
3 – A sublimidade de Deus - Santificado seja o teu nome
4 – O desejo pelo Reino de Deus – Venha o teu reino.
5 – O desejo pela vontade de Deus – seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.

A SEGUNDA PARTE É SOBRE NOSSA CONDIÇÃO E NECESSIDADES - o pão nosso de cada dia dá-nos hoje;  e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores;  e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal.
 1- Necessidades presentes a ordinárias – O pão nosso de cada dia, dá-nos hoje.
2 – O perdão de nossas dívidas com Deus – Perdoa-nos as nossas dívidas.
3 – A declaração de um dever de imitar a Deus – assim como temos perdoados aos nossos devedores.
4 – O pedido de vitória contra o pecado – não nos deixes cair em tentação.
5 – O pedido de vitória contra o mal e o maligno – mas livra-nos do mal.

A TERCEIRA PARTE É DOXOLOGIA – PALAVRAS LITÚRGICAS OU PALAVRAS DE CULTO - Pois teu é o Reino, o Poder e a Glória, para sempre. Amém
1 – A soberania de Deus – Teu é o Reino.
2 – A grandeza de Deus – Teu é o poder
3 – A sublimidade de Deus – Tua é a glória.
4 – A eternidade de Deus – Para sempre.
5 – A certeza de tudo o que foi dito – Amém.
Que perfeita oração. Que oração perfeita. Tudo está incluído nestas declarações e petições. Este é o padrão perfeito para as nossas orações.
Por tudo isso podemos declarar como é sublime a oração.
A oração não é uma demonstração de espiritualidade ou piedade. É totalmente oposta à publicidade. Ela é a ação anti-demonstração (Bonhoeffer).  A oração é a Deus e entre quem ora e Deus. Não é um teatro. Não é para exibição. Não é uma exortação aos outros. Não é uma arma para conseguirmos coisas, um artifício para Deus nos dar coisas, um método para convencermos a Deus ou uma chantagem a Deus.
Não é uma chave que aciona milagres. Não é uma alavanca que move a mão imóvel de um Deus impassível. Não é um recurso para fazermos Deus agir.
Não meus irmãos. A oração é nosso reconhecimento de quem é nosso Deus.
A oração é nossa declaração de dependência de Deus.
A oração é a declaração de nossa falta de redenção própria, de nossa pecaminosidade radical.
A oração é a declaração de  nosso anseio pelo reino e vontade de Deus.
A oração é a revelação da intensidade de nosso desejo por Deus.
A oração é  o termômetro de nossa satisfação em Deus.

É isso que vamos aprender com esta exposição do Pai Nosso.

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