terça-feira, 27 de março de 2018

Os Males da Cobiça - O Décimo Mandamento

Pregado em 18 de março de 2018 - Na Capela Missional/Porto Alegre

EXPOSIÇÕES NO BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER
PERGUNTA 79. Qual é o décimo mandamento?
R. O décimo mandamento é :  Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo. Ex 20.17



                                              OS MALES DA COBIÇA

A Cobiça, fruto da inveja é o pecado mais íntimo e revelador de nossa natureza caída.

A cobiça é fruto da inveja que na tradição cristã medieval era o segundo pecado capital. Os pecados capitais: Orgulho, Inveja, Raiva, Preguiça, Avareza, Glutonaria, Luxúria.
A Inveja é o desejo de ter o que o outro tem. A cobiça é o desejo de ter o que é do outro.
Não é pecado desejar ter o que não temos, mas é pecado desejar o que não temos porque o outro tem e nós não, porque isto é inveja. O mandamento torna explicito a cobiça que é deseja  que o outro tem. Desejar o que é do outro.
Gl 5.26 - Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros.
Quando falamos sobre os mandamentos, não estamos falando em legalismo. O legalismo se baseia nas conquistas espirituais pelo desempenho e méritos humanos e pessoais. O legalista impõe aos outros aquilo que  ele deveria praticar. O legalista quando confrontado pelo pecado e suas misérias, ele procura em si mesmo virtudes que o tornem aceitáveis diante de Deus.
Outro fato é moralismo, que é a busca das virtudes sem as pressuposições do Evangelho e da graça. Onde há legalismo e moralismo, não há graça. Somente a centralidade do Evangelho torna as pessoas mais humildes, à medida que são lembradas de que não são aceitas por Deus, com base no que fazem, mas pelo que Deus mesmo fez em Cristo.
O Décimo Mandamento nos leva ao desespero de nós mesmos e de nossos recursos. Por isso, a saída é a Cruz de Cristo.
Martinho Lutero: “O Décimo Mandamento pretende dar o último golpe naqueles que pensam estar de pé, depois dos nove mandamentos precedentes.”
I - O MAIS ÍNTIMO DOS PECADOS
PERGUNTA 80. Que exige o décimo mandamento?
R. O décimo mandamento exige o pleno contentamento com a nossa condição, bem como disposição caridosa para com o nosso próximo e tudo o que lhe pertence.
1Tm 6.6-10 - De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. 7 Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. 8 Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. 9 Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. 10 Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.
Este pecado é o mais revelador de todos, porque revela o nosso coração. A proibição da cobiça como mandamento, leva a Lei e os mandamentos até a vida interior, ao mais intimo do ser humano. A Lei civil não pode coibir, nem punir a cobiça, a não ser que se torne ato concreto como o roubo. Ninguém vê a cobiça. Ninguém é testemunha dela a não ser a pessoa que está cobiçando.  A cobiça pertence à vida interior, ao coração, à mente.
A quebra deste mandamento revela as coisas que estão abaixo da superfície, nos lugares secretos de nossas vidas.
Deus proíbe a cobiça, este pecado tão particular, porque ele nos conhece.
A origem da cobiça é a insatisfação ou descontentamento. Este é o pecado que dá origem aos outros todos, por isso, ele encerra os Dez Mandamento.  A pessoa faz para si ídolos, porque não tem sua satisfação em Deus. A pessoa produz o culto à sua maneira, porque não se contenta com o culto que Deus prescreve. A Pessoa profana o nome de Deus, porque não se satisfaz com a linguagem reverente que Deus exige. A pessoa não observa o dia do Senhor, porque não se satisfaz com seis dias para si. A pessoa desonra pai e mãe, por descontentamento. A pessoa mata por isso.  A pessoa comete adultério, porque não está satisfeito com seu cônjuge. A pessoa rouba por insatisfação. A pessoa mente por insatisfação. Mas mesmo que alguém diga que não cometeu nenhum destes pecados, o décimo mandamento nos denuncia e nos expõe.
São Basílio afirmou: A inveja é a dor que sentimos pelo sucesso do próximo. O invejoso sempre tem um motivo para tristeza e desânimo. A pior característica dessa dor, no entanto, é que quem a sente não pode revelá-la a ninguém.”
Max Bierbohn, na obra Zuleila Dobson afirma: A inveja odiosa que temos de pessoas brilhantes sempre é amenizada pela suspeita de que um dia eles vão se dar mal.”
A inveja nos ficar de tocaia esperando que a pessoa que está se dando bem, no fim se dê mal. Que o político seja pego com propina. Que o padre seja pego na pedofilia. Que o pastor seja pego em adultério.
A cobiça não é apenas desejar o que não temos. Cobiça é desejar o que o outro tem.
Thomas Watson – “desejo insaciável de possuir o mundo”.
Quando Satanás tentou a Eva, ele instigou o desejo de ser como Deus (Gn 3.6).
O Décimo Mandamento menciona a casam a mulher, o servo, a serva, o boi, o jumento e nem coisa alguma. Ele coloca os bens como aquilo que não se pode cobiçar, mas conclui, afirmando, “nem coisa alguma do teu próximo.” A proibição se torna extensiva a tudo. Todo desejo ilícito, portanto, é pecado.
II – O MAIS DEVASTADOR DOS PECADOS
PERGUNTA 81. O que proíbe o décimo mandamento?
R. O décimo mandamento proíbe todo o descontentamento com a nossa condição, todo o movimento de inveja ou pesar à vista da prosperidade do nosso próximo e todas as tendências ou afeições desordenadas a alguma coisa que lhe pertence.
1Tm 6.6-10 - De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento.
Tomás de Aquino – A inveja é o desgosto pelo bem alheio.
O caminho da inveja é a cobiça que mais do que sentir a dor de não ter o que o outro tem, é o desejo de ter pra si o que o outro tem. É este sentimento que é colocado no Décimo Mandamento.
Os outros mandamentos expõem pecados exteriores principalmente, mas o décimo é interior.
Michael Horton, conta uma conversa que teve com um rabino,que lhe disse: “Uma das maiores diferenças entre nossas religiões é essa ideia de pecar apenas desejando ou pensando. Caso contrário, estaríamos pecado o tempo todo.”
*Martinho Lutero: “Este último mandamento  não se destina aos patifes, mas precisamente aos mais retos, para as pessoas que desejam ser honradas como honestas e virtuosas, porque não infringiram os mandamentos anteriores.”
Este mandamento nos expõe, nos denuncia como denunciou um homem muito virtuoso chamado *Paulo – “Eu não conheci pecado senão pela lei; porque eu não conheceria concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” Rm 7.7
O mandamento que proíbe a cobiça é o que nos convence de que somos pecadores que precisam de um salvador.
Francis Schaeffer; “Não cobiçarás é o mandamento interno que mostra ao ser humano, que se julga um ser moral, que ele precisa de um salvador. É comum que tal homem moral, que vive se comparando com os outros e comparando-se com uma lista de regras bastante fáceis, sinta-se, como Paulo, que está se dando muito bem. Mas de repente, quando confrontado com o mandamento interior que ordena não cobiçar, ele é levado a ajoelhar-se.”
Somos insatisfeitos, somos materialistas e egoístas. Por isso invejamos e cobiçamos. Não ajudamos mais o próximo, não contribuímos mais com a igreja visível,porque somos insatisfeitos. Desejamos a mulher do próximo. Desejamos o carro, a casa, a vida, a felicidade, o conforto, a vida do próximo, por insatisfação pecaminosa.
Perguntaram a Nelson Rockefeller quanto dinheiro era necessário para ser feliz. A resposta dele foi: “um pouco mais, sempre um pouco mais.”
Um grande exemplo de inveja, insatisfação e cobiça é a história retratada no filme Amadeus, no caso Salieri e Mozart.
Numa peça chamada – O último ano de Mozart – uma frase é atribuída a Constanze Mozart: “ todos temos inimigos, mas ninguém foi mais incansável e continuamente atacado e injuriado pelos inimigos do que meu marido, apenas por ter talento.”
*O contentamento é a solução bíblica, o remédio para o desejo pecaminoso. O contentamento cristão não significa deixar de sonhar, de trabalhar para adquirir bens, lutar para proteger e multiplicar nossos bens – nada disso. *O contentamento cristão significa estar satisfeito com Deus. Satisfeito em Deus. Quem está satisfeito com Deus, buscará aquilo que é correto buscar e da forma correta.
A saída para este pecado é a confiança em nosso Senhor Jesus Cristo. Não é a riqueza e nem a pobreza. Mas a confiança na obra da cruz. Ele deve ser suficiente para nós. Com ele todas as coisas ganham significado. A cruz santifica nossa vida. A cruz redime nossa vida toda.

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