terça-feira, 20 de março de 2018

Não Furtarás - O Oitavo Mandamento - Exposição do Breve Catecismo de Westminster


Pregado em 04 de Março de 2018 – Na Capela Missional/Porto Alegre
 
 
PERGUNTA 73. Qual é o oitavo mandamento?
R. O oitavo mandamento é: "Não furtarás".
Ex 20.15. 15 Não furtarás.
O QUE É DE DEUS, O QUE É MEU E O QUE É DO OUTRO.
Todo pecado é um roubo a Deus, inclusive o roubo.
Este mandamento é dirigido à preservação dos relacionamentos rompidos em decorrência de roubos. O furto, ou roubo é um desrespeito e uma violação aos direitos de indivíduos e da sociedade como um todo. O verbo é usado sem um objeto, colocando a proibição no contexto mais abrangente possível.
Em hebraico é – Lo-ganaf e o significado é muito amplo e engloba todo tipo de roubo, furto, pilhagem, tomar algo à força que não lhe pertence, pesos e medidas fraudulentos, suborno, usura, transações fraudulentas, calotes, infidelidade nos contratos entre pessoas, extorsão, enganar alguém em relação ao uso de algo que pertence a este alguém, etc, .
Catecismo de Heidelberg – Pegunta 110. O que Deus proíbe no oitavo mandamento?
R. Deus não somente proíbe o furto e o roubo que as autoridades castigam, mas também classifica como roubo todos os maus propósitos e as práticas maliciosas, através dos quais tentamos nos apropriar dos bens do próximo, seja por força, seja por aparência de direito, a saber: falsificação de peso, de medida, de mercadoria e de moeda, seja por juros exorbitantes ou por qualquer outro meio, proibido por Deus. Também proíbe toda avareza bem como todo abuso e desperdício de suas dádivas.
Este mandamento, portanto protegia tanto a liberdade, como a justiça nos relacionamentos e na convivência das pessoas.
Vejamos as implicações deste mandamento
1 – TUDO PERTECENCE A DEUS, TANTO O QUE É DO OUTRO, COMO O QUE É MEU.
Em primeiro lugar, tudo pertence a Deus, veja por exemplo o Salmo 24 – “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.” Roubar é pecado, porque Deus é Deus. Este mandamento, como os outros deve ser lido, analisado e praticado à luz do preâmbulo – “Eu sou o Senhor teu Deus.”
Tudo pertence a Deus e dentro desta pressuposição, roubar é um pecado contra Deus em primeiro lugar e uma violação ao direito do próximo dentro daquilo que Deus deu a ele.
PERGUNTA 74. Que exige o oitavo mandamento?
R. O oitavo mandamento exige que procuremos por todos os meios lícitos e justos preservar e aumentar a riqueza e o estado exterior, tanto nosso como do nosso próximo.
Roubar é um pecado contra Deus,  é uma afronta contra a providência de Deus. Primeiro, porque é uma falta de confiança em sua provisão. Guardar o oitavo mandamento também é um exercício de fé na providência de Deus. Roubar é pecado também porque se rouba aquilo Ele providenciou para outra pessoa.
2 – TUDO O QUE É MEU, É POR E PARA MORDOMIA.
Vamos observar também que dentro desta pressuposição, de que tudo é e Deus, então, ele é quem permite se ter coisas como propriedades. Também devemos observar, que se tudo pertence a Deus, o que temos é para ser usado como mordomia, ou seja, cuidamos o que pertence a Deus. Isso significa que não temos o direito ou a liberdade de usar as coisas ao bel prazer de usá-las, mas administrá-las  de acordo com as intenções do seu senhor. Tudo o que possuímos é propriedade de Deus.
Veja o que Calvino diz: "A custódia do jardim foi dada em incumbência a Adão para mostrar que possuímos as coisas que Deus entregou em nossas mãos, sob a condição de nos contentarmos com uso moderados delas e cuidarmos do que permanece. Que cada um de nós considere a si mesmo como um mordomo de Deus em todas as coisas que possuímos. Então, não nos conduziremos de forma dissoluta nem corrupta para abusarmos das coisas que Deus exige que sejam preservadas.”
3  – TUDO O QUE É DO OUTRO, NÃO É MEU.
PERGUNTA 75. Que proíbe o oitavo mandamento? R. O oitavo mandamento proíbe tudo o que impede ou pode impedir os meios lícitos e justos de preservar e aumentar a riqueza e o estado exterior, tanto nosso como do nosso próximo.
Sendo que tudo é de Deus, ele deu o direito à outra pessoa de possuir sua propriedade. Apenas algo que pertence à alguém pode ser roubado. Não temos o direito de tomar para nós o que Deus deu aos outros. Meus irmãos, desta maneira, de alguma maneira todos nós quebramos este mandamento. Os ricos roubam, os pobres roubam, o governo rouba. Há roubo no trabalho, de quem emprega e de quem é empregado, de várias maneiras isso acontece. Crentes podem quebrar este mandamento, por exemplo, achando que é espiritual, ao jejuar no trabalho, ao evangelizar, ao orar, ao ler a Bíblia ou bom livro – se isso diminuir a produtividade que de forma justa o seu empregador espera. O empregador rouba quando exige mais do que o necessário e paga menos. Ele rouba Quando não paga o que é justo ao trabalhador. O roubo do pobre é violação deste mandamento, pois suas necessidades devem ser supridas pelo trabalho ou ajuda lícita de alguém, de uma instituição ou até do governo.
O roubo dos ricos é violação deste mandamento. Veja o que Lutero falou sobre isso: “Longe de serem larápios e arrombadores de fechaduras por meio de chaves falsas para saquear cofres, eles sentam em cadeiras de escritório e são chamados de aristocratas e bons e honrosos cidadãos”.
Também Calvino afirma: “ são ladrões que secretamente roubam a propriedade dos outros e também que buscam ganho pela fama dos outros, acumulam riquezas por práticas ilícitas e são mais dedicados à vantagem particular do que ao que é justo.”
Calvino também afirma o seguinte: “Não esqueçam que todas as artimanhas pelas quais podemos adquirir os bens e dinheiro dos outros, quando tais mecanismos divergem do que é correto e visam o desejo de enganar ou de alguma maneira prejudicar, têm de ser considerados como roubo.”
4 – TUDO O QUE É BEM, DEVE TER SEU USO CORRETO PARA O FIM CORRETO.
Uso o termo “Bem” no sentido de posse, bem material, propriedade.
A mordomia indica que ser dono de algo, no mundo de Deus, não significa que podemos usar as coisas segundo nossos propósitos sem considerar os propósitos de Deus. Ao mesmo tempo  que somos proibidos de tomar coisas que não nos pertencem, somos também chamados a usar o que temos de modo que sejam agradáveis a Deus.
Segundo Jerry Bridges três atitudes básicas existem com relação as coisas:
A primeira diz: O que é seu é meu; vou pegar. Esta é a atitude do ladrão.
A segunda diz: O que é meu é meu, vou guardar. Apesar desta atitude ser por vezes correta, pode ser também uma atitude egoísta e por isso, pecaminosa.
A terceira diz: O que é meu é de Deus, vou compartilhar. Esta é atitude do mordomo de Deus. Deus nos deu o que temos. Deus nos deu além de bens, nos deu coisas mais importantes como a si mesmo. Veja Jesus na Cruz. É o dom maior de Deus. Como cristãos, somos chamados à generosidade. Não temos as coisas apenas para satisfazer a nós mesmos e nossas necessidades, mas também para prover a subsistência dos outros. Um dos princípios desta mordomia é dar, compartilhar o que Deus nos deu para outras pessoas tenham o que precisam.
Todos nós quebramos o oitavo mandamento ( não furtarás). Todos de alguma forma usamos algum bem ilicitamente. Todos temos o desejo de explorar. Os poderosos, só têm os meios para isso.
Catecismo de Heidelberg -  p. 111. Mas o que Deus ordena neste mandamento?  R. Devo promover tanto quanto possível, o bem do meu próximo e tratá-lo como quero que outros me tratem . Além disto, devo fazer fielmente meu trabalho para que possa ajudar ao necessitado.
Este é o mandamento e estas são as implicações e aplicações. É maravilhoso estudar os Dez Mandamentos, porque eles nos confrontam e apontam nossos pecados. Vemos que não existe um único mandamento que guardamos com toda a integridade. Vimos que somos culpados pela Lei. O Evangelho é a boa noticia que diz que Jesus morreu na cruz e ressuscitou para salvar aquele que crê. Jesus morreu na cruz para salvar pecadores.
Jesus foi crucificado entre dois ladrões, mas de acordo com a justiça de Deus, havia três ladrões crucificados, pois Cristo substituiu pecadores, inclusive transgressores do Oitavo Mandamento. Ele que não tinha pecado, foi feito pecado em nosso lugar. 

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