domingo, 21 de janeiro de 2018

O Sexto Mandamento - Não Matarás

Pregado em 14 de janeiro de 2018 / Capela Missional em Porto Alegre
Sermões no Breve Catecismo de Westminster - perguntas 67 a 69

                            PERGUNTA 67. Qual é o sexto mandamento?
                            R. O sexto mandamento é: "Não matarás".
                                                                                                              Ex 20.13




             SOBRE O VALOR DA NOSSA VIDA E A DO PRÓXIMO.

O sexto mandamento nos ensina o valor da vida como vinda de Deus.

Nestas exposições dos Dez Mandamentos, estamos seguindo pelo caminho da tradição reformada, onde a validade de cada mandamento é reafirmada como resumo de toda a lei de Deus.
Há uma outra tradição que teve início em um movimento paralelo à Tradição dos Reformadores que foi o movimentos dos anabatistas. Deste movimento vem Menno Simons que foi o pai dos menonitas. Esta outra tradição afirma que a Antiga Aliança passou e foi totalmente abrogada e Cristo trouxe uma nova lei e novos mandamentos que anularam os antigos.
O sexto mandamento é interpretado de forma totalmente diferente pela duas tradições. Nossa interpretação segue na linha da tradição reformada.
A tradição reformada vê no sexto mandamento um mandamento que visa em primeiro lugar e como objetivo principal a proteção da vida. Este mandamento à luz de toda a Lei e também do Novo Testamento, na Nova Aliança é um chamado à que todos zelem pela vida do próximo, amando o próximo.
O sexto mandamento proíbe tirar a vida de alguém porque Deus é o Senhor. Lembrem-se que os motivos dos mandamentos está registrado no preâmbulo, “Eu sou o Senhor teu Deus.”
Antes de tudo é preciso prestar atenção ao significado do – Não matarás”. O termo hebraico é Lo-ratzach e o significado primário é “não assassinarás”. Não matar no sentido de assassinato. É usado para mortes pessoais, intencionais ou acidentais (Dt 4.42). Não é usado este termo para o matar no sentido em que era permitido, como nas guerras, na aplicação da lei ou da punição divina. Também não é usado para morte de animais, por exemplo. Não matarás fala de não matar ilegalmente. Não matar o próximo, por nenhum motivo que não seja legalmente ou moralmente aceitável.
Neste sentido não se aplica às mortes em nome da defesa da família, por exemplo. Às mortes de soldados numa guerra, desde que esta guerra sejam aceitáveis em suas reivindicações diante das leis internacionais que regulamentam as guerras – em tratados, convenções ou pactos entres as nações.

O SEXTO MANDAMENTO AFIRMA O VALOR DA VIDA COMO DOM DE DEUS.
PERGUNTA 68. Que exige o sexto mandamento?
R. O sexto mandamento exige todos os esforços lícitos para conservar a nossa vida e a dos nossos semelhantes.
A vida é preciosa porque todos os seres humanos são criados à imagem de Deus.
Calvino – “O próximo tem a imagem de Deus. Usá-lo, abusá-lo ou maltratá-lo é fazer violência à pessoa de Deus, cuja imagem está em cada alma humana.”

O SEXTO MANDAMENTO AFIRMA A SOBERANIA DE DEUS SOBRE A VIDA.
O sexto mandamento afirma a santificação da vida e afirma a soberania de Deus sobre a vida e a morte. Tirar a vida de uma pessoa ilegalmente é violar a soberania de Deus sobre a vida e a morte. Deus dá autoridade para algumas situações. O estado, o pai, alguém que está protegendo outra pessoa mais fraca, desprotegida, desprovida de condições de se defender, por exemplo. A polícia na sua função de proteção, repressão ao crime, prevenção ou manutenção da ordem, é outro exemplo.
Mas na ordem comum, não temos autoridade ou permissão para violar o sexto mandamento. Quem tira a vida de alguém está roubando a glória de Deus que deu a vida àquela pessoa.

O SEXTO MANDAMENTO É UMA ADVERTÊNCIA CONTRA A BANALIZAÇÃO DA MORTE.
PERGUNTA 69. Que proíbe o sexto mandamento?
R. O sexto mandamento proíbe o tirar a nossa própria vida, ou a do nosso próximo injustamente, e tudo aquilo que para isso concorre.
A morte é um assunto que tem a ver com a soberania de Deus. Ninguém deveria morrer sem que a ordem fosse dada por Deus na hora de Deus. Deus, sendo o Senhor da vida tem o direito de determinar a hora e a forma de alguém morrer. Nenhum ser humano deveria ter o direito de determinar isso.
O cristão que entende o sexto mandamento entende isso. O cristão deveria se opor à cultura da violência. O cristão deveria se opor à banalização da violência. O cristão deveria se opor à cultura da morte. Neste sentido, o cristão deveria se opor á cultura do suicídio. Cometer suicídio é se assenhorar da vida. É tornar a si mesmo seu deus.  O cristão deveria ser sempre contra o aborto. Calvino: “o feto, embora encerrado no ventre de sua mãe, já é um ser humano, e é um crime monstruoso roubá-lo da vida que ele ainda não começou a desfrutar.” O aborto é um pecado, porque é uma afronta à criação divina que está formando aquela criança no ventre da mãe (Sl 139.13-16). O feto no ventre da mãe já se relaciona com sua mãe. O feto no ventre da mãe, já se relaciona com Deus.
Toda vida humana deve ser preservada, o feto, as crianças, os pobres, os desamparados, os idosos, os indefesos, os deficientes. Todos foram feitos e carregam a imagem de Deus.
O SEXTO MANDAMENTO NOS ORDENA NÃO APENAS NÃO MATAR, MAS LUTAR PELA VIDA UNS DOS OUTROS.
A má noticia deste mandamento é que mais do que não matar, o sexto mandamento é um chamado à proteção da vida dos outros. Isto está bem ilustrado e ensinado por Jesus na Parábola do Bom Samaritano em como aquele homem zelou pela do outro e lutou pela vida do próximo.
Para quebrar o sexto mandamento basta não fazer nada pelo próximo que necessita da nossa ajuda, proteção, cuidado ou amparo.
Catecismo Maior de Westminster
P. 135. Quais são os deveres exigidos no sexto mandamento?
R. Os deveres exigidos no sexto mandamento são todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação de nossa vida e a de outros, resistindo a todos os pensamentos e propósitos, subjugando todas as paixões, e evitando todas as ocasiões, tentações e práticas que tendem a tirar injustamente a vida de alguém; por meio de justa defesa dela contra a violência; por paciência em suportar a mão de Deus; sossego mental, alegria de espírito e uso sóbrio da comida, bebida, remédios, sono, trabalho e recreios; por pensamentos caridosos, amor, compaixão, mansidão, benignidade, bondade, comportamento e palavras pacíficos, brandos e corteses; a longanimidade e prontidão para se reconciliar, suportando pacientemente e perdoando as injúrias, dando bem por mal, confortando e socorrendo os aflitos, e protegendo e defendendo o inocente. 

Veja o que Lutero falou sobre isso: Este mandamento é violado não só quando a pessoa faz o mal, porém também quando não faz o bem para o próximo; ou, embora tenha a oportunidade, não impede, protege e salva o próximo de sofrer danos corporais. Se você despede uma pessoa nua quando pode vesti-la, você a deixa morrer de fome. Da mesma forma, se você vê alguém condenado à morte ou em perigo semelhante e não o salva, embora tenha meios e recursos para fazê-lo, você o mata.
Não lhe fará bem argumentar que não contribuiu para a morte dessa pessoa por palavra e ação, pois você deixou de amá-lo e lhe roubou do serviço pelo qual a vida poderia ter sido salva.”
Catecismo de Heidelberg - 107. Mas é suficiente não matar nosso próximo?
R. Não, porque Deus, condenando a inveja, o ódio e a ira, manda que amemos nosso próximo como a nós mesmos  e mostremos paciência, paz, mansidão, misericórdia e gentileza para com ele. Devemos evitar seu prejuízo, tanto quanto possível, e fazer bem até aos nossos inimigos.

O SEXTO MANDAMENTO NOS ENSINA QUE DEUS QUE QUE AMEMOS NOSSO PRÓXIMO COMO A NÓS MESMOS.
Precisamos ser para nosso próximo o que o samaritano foi para o homem encontrado à beira da morte. Precisamos ser os heróis do próximo. Ele tratou o inimigo, como se fosse um amigo. O sexto mandamento significa mais do que não matar alguém. Significa amar o próximo, mostrar bondade aos estranhos e misericórdia até mesmo ao inimigo.
Catecismo Heidelberg - Pergunta 105. O que Deus exige no sexto mandamento?
R. Eu não devo desonrar, odiar, ofender ou matar meu próximo , por mim mesmo ou através de outros. Isto não posso fazer, nem por pensamentos, palavras, ou gestos e muito menos por atos. Mas devo abandonar todo desejo de vingança, não fazer mal a mim mesmo ou, de propósito, colocar-me em perigo. Por isso as autoridades dispõem das armas para impedir homicídios.
Pergunta 106. Este mandamento trata somente de matar?
R. Não, proibindo o homicídio, Deus nos ensina que Ele detesta a raiz do homicídio, a saber: a inveja, o ódio, a ira  e o desejo de vingança. Ele considera tudo isto homicídio.
O sexto mandamento é muito mais difícil de guardar, pois Jesus interpretou este mandamento desta forma.
Mateus  5.21 -  Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. 22 Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo.
O apóstolo João também dá seu parecer inspirado sobre isto;
1Jo 3.15 -  Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si.
Todos nós, portanto, quebramos este mandamento. Ao quebrar o mandamento nos tornamos merecedores do inferno, da condenação eterna. Os assassinos vão para o inferno (Ap 21.8). Esta é a má notícia para nós. A mais terrível notícia.
Jesus cumpriu plenamente este mandamento. Ele morreu na cruz por todos os pecadores. Pecador é quem quebra a lei. Ele morreu por quem quebra a lei. Ele morreu no lugar de quem quebra a lei. Ele morreu inclusive por assassinos. Ele morreu por mim e por você. Em meu lugar e em seu lugar. Nós somos culpados de quebrar este mandamento. Jesus obedeceu este mandamento e morreu em meu e em teu lugar. Ele é nosso salvador. Esta é a maravilhosa notícia. A mais maravilhosa notícia da noite.

Rogerio Nascimento  - https://www.facebook.com/pastorrogerionascimento
Capela Missional - https://www.facebook.com/Igrejacristadeconfissaoreformada/

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