Pregado em 18 de março de 2018 - Na Capela Missional/Porto Alegre
EXPOSIÇÕES NO BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER
PERGUNTA 79.
Qual é o décimo mandamento?
R. O décimo
mandamento é : Não cobiçarás a casa
do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a
sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao
teu próximo. Ex 20.17
OS MALES DA
COBIÇA
A Cobiça,
fruto da inveja é o pecado mais íntimo e revelador de nossa natureza caída.
A cobiça é
fruto da inveja que na tradição cristã medieval era o segundo pecado capital.
Os pecados capitais: Orgulho, Inveja, Raiva, Preguiça, Avareza, Glutonaria,
Luxúria.
A Inveja é o
desejo de ter o que o outro tem. A cobiça é o desejo de ter o que é do outro.
Não é pecado
desejar ter o que não temos, mas é pecado desejar o que não temos porque o
outro tem e nós não, porque isto é inveja. O mandamento torna explicito a
cobiça que é deseja que o outro tem.
Desejar o que é do outro.
Gl 5.26 - Não nos deixemos possuir de
vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros.
Quando
falamos sobre os mandamentos, não estamos falando em legalismo. O legalismo se
baseia nas conquistas espirituais pelo desempenho e méritos humanos e pessoais.
O legalista impõe aos outros aquilo que
ele deveria praticar. O legalista quando confrontado pelo pecado e suas
misérias, ele procura em si mesmo virtudes que o tornem aceitáveis diante de
Deus.
Outro fato é
moralismo, que é a busca das virtudes sem as pressuposições do Evangelho e da
graça. Onde há legalismo e moralismo, não há graça. Somente a centralidade do
Evangelho torna as pessoas mais humildes, à medida que são lembradas de que não
são aceitas por Deus, com base no que fazem, mas pelo que Deus mesmo fez em
Cristo.
O Décimo
Mandamento nos leva ao desespero de nós mesmos e de nossos recursos. Por isso, a saída é a Cruz de Cristo.
Martinho
Lutero: “O Décimo Mandamento pretende dar o último golpe naqueles que pensam estar de pé, depois dos nove mandamentos precedentes.”
I - O MAIS
ÍNTIMO DOS PECADOS
PERGUNTA 80.
Que exige o décimo mandamento?
R. O décimo
mandamento exige o pleno contentamento com a nossa condição, bem como
disposição caridosa para com o nosso próximo e tudo o que lhe pertence.
1Tm 6.6-10 - De fato, grande fonte de lucro é
a piedade com o contentamento. 7 Porque nada temos trazido para o mundo,
nem coisa alguma podemos levar dele. 8 Tendo sustento e com que nos
vestir, estejamos contentes. 9 Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação,
e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam
os homens na ruína e perdição. 10 Porque o amor do dinheiro é raiz de
todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se
atormentaram com muitas dores.
Este pecado
é o mais revelador de todos, porque revela o nosso coração. A proibição da
cobiça como mandamento, leva a Lei e os mandamentos até a vida interior, ao
mais intimo do ser humano. A Lei civil não pode coibir, nem punir a cobiça, a
não ser que se torne ato concreto como o roubo. Ninguém vê a cobiça. Ninguém é
testemunha dela a não ser a pessoa que está cobiçando. A cobiça pertence à vida interior, ao
coração, à mente.
A quebra
deste mandamento revela as coisas que estão abaixo da superfície, nos lugares
secretos de nossas vidas.
Deus proíbe
a cobiça, este pecado tão particular, porque ele nos conhece.
A origem da
cobiça é a insatisfação ou descontentamento. Este é o pecado que dá origem aos
outros todos, por isso, ele encerra os Dez Mandamento. A pessoa faz para si ídolos, porque não tem
sua satisfação em Deus. A pessoa produz o culto à sua maneira, porque não se
contenta com o culto que Deus prescreve. A Pessoa profana o nome de Deus,
porque não se satisfaz com a linguagem reverente que Deus exige. A pessoa não
observa o dia do Senhor, porque não se satisfaz com seis dias para si. A pessoa
desonra pai e mãe, por descontentamento. A pessoa mata por isso. A pessoa comete adultério, porque não está satisfeito
com seu cônjuge. A pessoa rouba por insatisfação. A pessoa mente por
insatisfação. Mas mesmo que alguém diga que não cometeu nenhum destes pecados,
o décimo mandamento nos denuncia e nos expõe.
São Basílio
afirmou: A inveja é a dor que sentimos pelo sucesso do próximo. O invejoso
sempre tem um motivo para tristeza e desânimo. A pior característica dessa dor,
no entanto, é que quem a sente não pode revelá-la a ninguém.”
Max
Bierbohn, na obra Zuleila Dobson afirma: A inveja odiosa que temos de pessoas
brilhantes sempre é amenizada pela suspeita de que um dia eles vão se dar mal.”
A inveja nos
ficar de tocaia esperando que a pessoa que está se dando bem, no fim se dê mal.
Que o político seja pego com propina. Que o padre seja pego na pedofilia. Que o
pastor seja pego em adultério.
A cobiça não
é apenas desejar o que não temos. Cobiça é desejar o que o outro tem.
Thomas
Watson – “desejo insaciável de possuir o mundo”.
Quando
Satanás tentou a Eva, ele instigou o desejo de ser como Deus (Gn 3.6).
O Décimo
Mandamento menciona a casam a mulher, o servo, a serva, o boi, o jumento e nem
coisa alguma. Ele coloca os bens como aquilo que não se pode cobiçar, mas
conclui, afirmando, “nem coisa alguma do teu próximo.” A proibição se torna
extensiva a tudo. Todo desejo ilícito, portanto, é pecado.
II – O MAIS
DEVASTADOR DOS PECADOS
PERGUNTA 81.
O que proíbe o décimo mandamento?
R. O décimo
mandamento proíbe todo o descontentamento com a nossa condição, todo o
movimento de inveja ou pesar à vista da prosperidade do nosso próximo e todas
as tendências ou afeições desordenadas a alguma coisa que lhe pertence.
1Tm 6.6-10 - De fato, grande fonte de lucro é
a piedade com o contentamento.
Tomás de
Aquino – A inveja é o desgosto pelo bem alheio.
O caminho da
inveja é a cobiça que mais do que sentir a dor de não ter o que o outro tem, é
o desejo de ter pra si o que o outro tem. É este sentimento que é colocado no
Décimo Mandamento.
Os outros
mandamentos expõem pecados exteriores principalmente, mas o décimo é interior.
Michael
Horton, conta uma conversa que teve com um rabino,que lhe disse: “Uma das
maiores diferenças entre nossas religiões é essa ideia de pecar apenas
desejando ou pensando. Caso contrário, estaríamos pecado o tempo todo.”
*Martinho
Lutero: “Este último mandamento não se
destina aos patifes, mas precisamente aos mais retos, para as pessoas que
desejam ser honradas como honestas e virtuosas, porque não infringiram os
mandamentos anteriores.”
Este
mandamento nos expõe, nos denuncia como denunciou um homem muito virtuoso
chamado *Paulo – “Eu não conheci pecado senão pela lei; porque eu não
conheceria concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” Rm 7.7
O mandamento
que proíbe a cobiça é o que nos convence de que somos pecadores que precisam de
um salvador.
Francis
Schaeffer; “Não cobiçarás é o mandamento interno que mostra ao ser humano, que
se julga um ser moral, que ele precisa de um salvador. É comum que tal homem
moral, que vive se comparando com os outros e comparando-se com uma lista de
regras bastante fáceis, sinta-se, como Paulo, que está se dando muito bem. Mas
de repente, quando confrontado com o mandamento interior que ordena não
cobiçar, ele é levado a ajoelhar-se.”
Somos
insatisfeitos, somos materialistas e egoístas. Por isso invejamos e cobiçamos.
Não ajudamos mais o próximo, não contribuímos mais com a igreja visível,porque
somos insatisfeitos. Desejamos a mulher do próximo. Desejamos o carro, a casa,
a vida, a felicidade, o conforto, a vida do próximo, por insatisfação
pecaminosa.
Perguntaram
a Nelson Rockefeller quanto dinheiro era necessário para ser feliz. A resposta
dele foi: “um pouco mais, sempre um pouco mais.”
Um grande
exemplo de inveja, insatisfação e cobiça é a história retratada no filme
Amadeus, no caso Salieri e Mozart.
Numa peça
chamada – O último ano de Mozart – uma frase é atribuída a Constanze Mozart: “
todos temos inimigos, mas ninguém foi mais incansável e continuamente atacado e
injuriado pelos inimigos do que meu marido, apenas por ter talento.”
*O
contentamento é a solução bíblica, o remédio para o desejo pecaminoso. O
contentamento cristão não significa deixar de sonhar, de trabalhar para
adquirir bens, lutar para proteger e multiplicar nossos bens – nada disso. *O
contentamento cristão significa estar satisfeito com Deus. Satisfeito em Deus.
Quem está satisfeito com Deus, buscará aquilo que é correto buscar e da forma
correta.
A saída para
este pecado é a confiança em nosso Senhor Jesus Cristo. Não é a riqueza e nem a
pobreza. Mas a confiança na obra da cruz. Ele deve ser suficiente para nós. Com
ele todas as coisas ganham significado. A cruz santifica nossa vida. A cruz
redime nossa vida toda.