terça-feira, 27 de março de 2018

Os Males da Cobiça - O Décimo Mandamento

Pregado em 18 de março de 2018 - Na Capela Missional/Porto Alegre

EXPOSIÇÕES NO BREVE CATECISMO DE WESTMINSTER
PERGUNTA 79. Qual é o décimo mandamento?
R. O décimo mandamento é :  Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma que pertença ao teu próximo. Ex 20.17



                                              OS MALES DA COBIÇA

A Cobiça, fruto da inveja é o pecado mais íntimo e revelador de nossa natureza caída.

A cobiça é fruto da inveja que na tradição cristã medieval era o segundo pecado capital. Os pecados capitais: Orgulho, Inveja, Raiva, Preguiça, Avareza, Glutonaria, Luxúria.
A Inveja é o desejo de ter o que o outro tem. A cobiça é o desejo de ter o que é do outro.
Não é pecado desejar ter o que não temos, mas é pecado desejar o que não temos porque o outro tem e nós não, porque isto é inveja. O mandamento torna explicito a cobiça que é deseja  que o outro tem. Desejar o que é do outro.
Gl 5.26 - Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros.
Quando falamos sobre os mandamentos, não estamos falando em legalismo. O legalismo se baseia nas conquistas espirituais pelo desempenho e méritos humanos e pessoais. O legalista impõe aos outros aquilo que  ele deveria praticar. O legalista quando confrontado pelo pecado e suas misérias, ele procura em si mesmo virtudes que o tornem aceitáveis diante de Deus.
Outro fato é moralismo, que é a busca das virtudes sem as pressuposições do Evangelho e da graça. Onde há legalismo e moralismo, não há graça. Somente a centralidade do Evangelho torna as pessoas mais humildes, à medida que são lembradas de que não são aceitas por Deus, com base no que fazem, mas pelo que Deus mesmo fez em Cristo.
O Décimo Mandamento nos leva ao desespero de nós mesmos e de nossos recursos. Por isso, a saída é a Cruz de Cristo.
Martinho Lutero: “O Décimo Mandamento pretende dar o último golpe naqueles que pensam estar de pé, depois dos nove mandamentos precedentes.”
I - O MAIS ÍNTIMO DOS PECADOS
PERGUNTA 80. Que exige o décimo mandamento?
R. O décimo mandamento exige o pleno contentamento com a nossa condição, bem como disposição caridosa para com o nosso próximo e tudo o que lhe pertence.
1Tm 6.6-10 - De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. 7 Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. 8 Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. 9 Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. 10 Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.
Este pecado é o mais revelador de todos, porque revela o nosso coração. A proibição da cobiça como mandamento, leva a Lei e os mandamentos até a vida interior, ao mais intimo do ser humano. A Lei civil não pode coibir, nem punir a cobiça, a não ser que se torne ato concreto como o roubo. Ninguém vê a cobiça. Ninguém é testemunha dela a não ser a pessoa que está cobiçando.  A cobiça pertence à vida interior, ao coração, à mente.
A quebra deste mandamento revela as coisas que estão abaixo da superfície, nos lugares secretos de nossas vidas.
Deus proíbe a cobiça, este pecado tão particular, porque ele nos conhece.
A origem da cobiça é a insatisfação ou descontentamento. Este é o pecado que dá origem aos outros todos, por isso, ele encerra os Dez Mandamento.  A pessoa faz para si ídolos, porque não tem sua satisfação em Deus. A pessoa produz o culto à sua maneira, porque não se contenta com o culto que Deus prescreve. A Pessoa profana o nome de Deus, porque não se satisfaz com a linguagem reverente que Deus exige. A pessoa não observa o dia do Senhor, porque não se satisfaz com seis dias para si. A pessoa desonra pai e mãe, por descontentamento. A pessoa mata por isso.  A pessoa comete adultério, porque não está satisfeito com seu cônjuge. A pessoa rouba por insatisfação. A pessoa mente por insatisfação. Mas mesmo que alguém diga que não cometeu nenhum destes pecados, o décimo mandamento nos denuncia e nos expõe.
São Basílio afirmou: A inveja é a dor que sentimos pelo sucesso do próximo. O invejoso sempre tem um motivo para tristeza e desânimo. A pior característica dessa dor, no entanto, é que quem a sente não pode revelá-la a ninguém.”
Max Bierbohn, na obra Zuleila Dobson afirma: A inveja odiosa que temos de pessoas brilhantes sempre é amenizada pela suspeita de que um dia eles vão se dar mal.”
A inveja nos ficar de tocaia esperando que a pessoa que está se dando bem, no fim se dê mal. Que o político seja pego com propina. Que o padre seja pego na pedofilia. Que o pastor seja pego em adultério.
A cobiça não é apenas desejar o que não temos. Cobiça é desejar o que o outro tem.
Thomas Watson – “desejo insaciável de possuir o mundo”.
Quando Satanás tentou a Eva, ele instigou o desejo de ser como Deus (Gn 3.6).
O Décimo Mandamento menciona a casam a mulher, o servo, a serva, o boi, o jumento e nem coisa alguma. Ele coloca os bens como aquilo que não se pode cobiçar, mas conclui, afirmando, “nem coisa alguma do teu próximo.” A proibição se torna extensiva a tudo. Todo desejo ilícito, portanto, é pecado.
II – O MAIS DEVASTADOR DOS PECADOS
PERGUNTA 81. O que proíbe o décimo mandamento?
R. O décimo mandamento proíbe todo o descontentamento com a nossa condição, todo o movimento de inveja ou pesar à vista da prosperidade do nosso próximo e todas as tendências ou afeições desordenadas a alguma coisa que lhe pertence.
1Tm 6.6-10 - De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento.
Tomás de Aquino – A inveja é o desgosto pelo bem alheio.
O caminho da inveja é a cobiça que mais do que sentir a dor de não ter o que o outro tem, é o desejo de ter pra si o que o outro tem. É este sentimento que é colocado no Décimo Mandamento.
Os outros mandamentos expõem pecados exteriores principalmente, mas o décimo é interior.
Michael Horton, conta uma conversa que teve com um rabino,que lhe disse: “Uma das maiores diferenças entre nossas religiões é essa ideia de pecar apenas desejando ou pensando. Caso contrário, estaríamos pecado o tempo todo.”
*Martinho Lutero: “Este último mandamento  não se destina aos patifes, mas precisamente aos mais retos, para as pessoas que desejam ser honradas como honestas e virtuosas, porque não infringiram os mandamentos anteriores.”
Este mandamento nos expõe, nos denuncia como denunciou um homem muito virtuoso chamado *Paulo – “Eu não conheci pecado senão pela lei; porque eu não conheceria concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” Rm 7.7
O mandamento que proíbe a cobiça é o que nos convence de que somos pecadores que precisam de um salvador.
Francis Schaeffer; “Não cobiçarás é o mandamento interno que mostra ao ser humano, que se julga um ser moral, que ele precisa de um salvador. É comum que tal homem moral, que vive se comparando com os outros e comparando-se com uma lista de regras bastante fáceis, sinta-se, como Paulo, que está se dando muito bem. Mas de repente, quando confrontado com o mandamento interior que ordena não cobiçar, ele é levado a ajoelhar-se.”
Somos insatisfeitos, somos materialistas e egoístas. Por isso invejamos e cobiçamos. Não ajudamos mais o próximo, não contribuímos mais com a igreja visível,porque somos insatisfeitos. Desejamos a mulher do próximo. Desejamos o carro, a casa, a vida, a felicidade, o conforto, a vida do próximo, por insatisfação pecaminosa.
Perguntaram a Nelson Rockefeller quanto dinheiro era necessário para ser feliz. A resposta dele foi: “um pouco mais, sempre um pouco mais.”
Um grande exemplo de inveja, insatisfação e cobiça é a história retratada no filme Amadeus, no caso Salieri e Mozart.
Numa peça chamada – O último ano de Mozart – uma frase é atribuída a Constanze Mozart: “ todos temos inimigos, mas ninguém foi mais incansável e continuamente atacado e injuriado pelos inimigos do que meu marido, apenas por ter talento.”
*O contentamento é a solução bíblica, o remédio para o desejo pecaminoso. O contentamento cristão não significa deixar de sonhar, de trabalhar para adquirir bens, lutar para proteger e multiplicar nossos bens – nada disso. *O contentamento cristão significa estar satisfeito com Deus. Satisfeito em Deus. Quem está satisfeito com Deus, buscará aquilo que é correto buscar e da forma correta.
A saída para este pecado é a confiança em nosso Senhor Jesus Cristo. Não é a riqueza e nem a pobreza. Mas a confiança na obra da cruz. Ele deve ser suficiente para nós. Com ele todas as coisas ganham significado. A cruz santifica nossa vida. A cruz redime nossa vida toda.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Mandamento contra a Mentira - O Nono Mandamento

Pregado em 11 de Março de 2018 - Na Capela Missional / Porto Alegre
 
PERGUNTA 76. Qual é o nono mandamento?
R. O nono mandamento é: "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo".Ex 20.16  

 


                                                 VERDADEIRAS MENTIRAS
Este mandamento protege o nome de uma pessoa, o valor da palavra de uma pessoa, o valor da reputação de uma pessoa e o valor da verdade.
 A mentira está na moda. Com a internet, é comum o que é chamado de Fake News. Até mesmo cristãos espalham noticias falsas sobre personalidades. Aqueles que pensam diferentes de nós são os maiores alvos. O que importa é desqualificar o adversário, desqualificando-o como pessoa. Deus ama a verdade e aqueles que o tem como Deus, deveriam ser amantes incondicionais da verdade. Amantes incondicionais daquilo que é verdadeiro. Este mandamento é um chamado à verdade.
1 – O SIGNIFICADO DO MANDAMENTO -  O nono mandamento é: "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo".
O contexto imediato deste mandamento era sobre testemunhar contra alguém. Lembrando que o uso do termo ‘próximo” no Antigo Testamento, era alguém do povo da aliança. Jesus ampliou este significado, mostrando que “próximo é qualquer pessoa”. O primeiro significado deste mandamento é a condenação da testemunha mentirosa. No mundo antigo o sistema de justiça para punição de crimes era basicamente por meio de testemunhas. Por isso, o testemunho era levado muito a sério.
Não se poderia condenar uma pessoa por uma só testemunha, mas era necessário, pelo menos duas (Dt 19. 15ss, Nm 35.30). Quando por meio de testemunho uma pessoa era condenada à morte, o acusador deveria atirar a primeira pedra (Dt 17.7). Se o acusador fosse considerado falso, ele é que sofria a pena de quem ele acusou (Dt 19.18-19).
Logo este mandamento dava o direito à acusação, mas também garantia a justiça ao acusado. Deus proibiu que alguém fizesse acusação falsa. O falso testemunho era uma quebra da Lei de Deus.
Pv 14.5 - A testemunha verdadeira não mente, mas a falsa se desboca em mentiras.
2 – AS EXIGÊNCIAS DO MANDAMENTO
PERGUNTA 77. Que exige o nono mandamento?
R. O nono mandamento exige a conservação e promoção da verdade entre os homens, e a manutenção da nossa boa reputação, e a do nosso próximo, especialmente quando somos chamados a dar testemunho.
No Catecismo Maior, na Pergunta 99 – existem regras para a correta interpretação dos Mandamentos. Uma destas regras é a “regra das categorias” – onde cada mandamento também se aplica aos pecados menores do mesmo tipo.
No nono mandamento, então, está proibindo todas as formas de falsidade e mentiras contra alguém.
Uma outra regra é a “regra dos dois lados” – Para cada proibição dos mandamentos, há também as exigências. Se mentir é proibido, dizer a verdade é obrigatório.  O cristão precisa promover a verdade entra as pessoas. O cristão precisa promover a boa reputação das pessoas a qualquer custo, mesmo de quem não se gosta.  Não se pode ter uma opinião pública cristã de julgamentos de adversários. Somente o que é verdadeiro sobre as pessoas deve ser dito.
Ef 4.25 -  Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros.
Mt 5.37 - Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno.
 3 – AS PROIBIÇÕES DO MANDAMENTO
PERGUNTA 78. Que proíbe o nono mandamento?
R. O nono mandamento proíbe tudo o que é prejudicial à verdade, ou injurioso, tanto à nossa reputação como à do nosso próximo.
Jamais devemos falar aquilo que intencionalmente prejudica ou difama outra pessoa. Jamais devemos falar o que pode destruir outra pessoa, a vida, os relacionamentos, os negócios ou a reputação de outra pessoa. Nem mesmo o que é verdadeiro pode ser dito sempre. Não podemos mentir nunca, mas nem toda a verdade precisa ser dita.  Seria trágico se chegássemos à conclusão que a verdade deve ser dita em qualquer lugar, a qualquer hora e para qualquer pessoa.
Bonhoeffer: “O cínico, que apresenta fanatismo pela verdade, não tem consideração pelas fraquezas humanas e destrói a verdade viva entre as pessoas.”
 Tais pessoas são legalistas, e cultuam a verdade, mesmo que destrua pessoas simples e inocentes. Não podemos mentir, isso é certo. Mas não somos obrigados a falar verdades que destruirão outras pessoas. No caso de ladrões que entrem numa casa. Regimes e sistemas totalitários que impõe sua lei de entregar pessoas. O mandamento não prevê estes casos. A Bíblia não prevê estes casos. O mandamento protege a honra do nome do próximo.
Lutero: “Ninguém deve causar dano ao próximo com a língua, quer se trate de amigo, que de inimigo, nem deve falar mal dele, pouco importa se é verdade ou mentira, a menos que seja decorrência de mandato ou vise a melhorar. Cumpre, ao contrário, fazer uso da língua para falar o melhor a respeito de todos, encobrir seus pecados e fragilidades, escusá-los e os embelezar e velar com sua honra”.
Portanto, guardar no nono mandamento não significa dizer o lhe vier a mente. Tem horas que o melhor é não dizer nada. Mas tenha em mente isso, jamais acuse uma pessoa que não possa se defender. Jamais fale de uma pessoa, se ela não puder se defender. Jamais prejudique uma pessoa com palavras. Depois que uma notícia, um boato é dito, seus efeitos não podem mais serem cancelados.   
4 – AS IMPLICAÇÕES E APLICAÇÕES DO MANDAMENTO.
Catecismo de Heidelberg – p.112. O que Deus exige no nono mandamento? R. Jamais posso dar falso testemunho contra meu próximo, nem torcer suas palavras ou ser mexeriqueiro ou caluniador. Também não posso ajudar a condenar alguém levianamente, sem o ter ouvido. Mas devo evitar toda mentira e engano, obras próprias do diabo, para Deus não ficar aborrecido comigo. Em julgamentos e em qualquer outra ocasião, devo amar a verdade, falar a verdade e confessá-la francamente. Também devo defender e promover, tanto quanto puder, a honra e a boa reputação de meu próximo.”
Uma maneira de quebrar este mandamento é falar mal das pessoas na forma de fofocas. Quem faz fofoca está quebrando este mandamento de - não falar mal do próximo – e também o oitavo mandamento – de não furtar ou não roubar. Está roubando o bom nome da outra pessoa. Por isso, é errado fazer fofoca e é errado ouvir fofoca. Um rabino disse que “O falar mal prejudica três pessoas:
Prejudica quem fala mal.
Prejudica quem ouve.
Prejudica, principalmente de quem se está falando mal.”
Thomas Watson fez a seguinte afirmação “Aquele que fala mal de outro carrega o diabo na língua. Aquele que ouve carrega o diabo no ouvido.’
Portanto o que devemos fazer? Devemos proteger a honra do próximo. Não devemos torcer as palavras de ninguém, dizendo o que a pessoa não disse. Não devemos nos envolver em falatórios e conversas caluniosas. Não devemos condenar ninguém de forma leviana. Devemos sempre dar o benefício da dúvida ao próximo.  Devemos amar a verdade, falar a verdade sempre, mas proteger o irmão fraco sempre. Não podemos colaborar com a ruína de ninguém. Aquele empurrãozinho para o abismo que as pessoas dão.
Cl 3.9 - Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos
O cristão deve zelar por não quebrar este mandamento. Jesus morreu na cruz para perdoar pecadores. Quem já transgrediu de alguma forma, e todos nós transgredimos este mandamento – encontra perdão na morte de Cristo na cruz.
O cristão é um revolucionário. Ele muda o mundo a seu redor com aquilo que aprende com Cristo.  Se a mentira, as fofocas, os Fake News, estão na moda, é a moda, o cristão é chamado a ser verdadeiro. Deus ama a verdade. Nosso Senhor Jesus Cristo é a verdade. Amemos a verdade, vivendo nela e vivendo ela em todos os nossos relacionamentos e em todo nosso procedimento.

terça-feira, 20 de março de 2018

Não Furtarás - O Oitavo Mandamento - Exposição do Breve Catecismo de Westminster


Pregado em 04 de Março de 2018 – Na Capela Missional/Porto Alegre
 
 
PERGUNTA 73. Qual é o oitavo mandamento?
R. O oitavo mandamento é: "Não furtarás".
Ex 20.15. 15 Não furtarás.
O QUE É DE DEUS, O QUE É MEU E O QUE É DO OUTRO.
Todo pecado é um roubo a Deus, inclusive o roubo.
Este mandamento é dirigido à preservação dos relacionamentos rompidos em decorrência de roubos. O furto, ou roubo é um desrespeito e uma violação aos direitos de indivíduos e da sociedade como um todo. O verbo é usado sem um objeto, colocando a proibição no contexto mais abrangente possível.
Em hebraico é – Lo-ganaf e o significado é muito amplo e engloba todo tipo de roubo, furto, pilhagem, tomar algo à força que não lhe pertence, pesos e medidas fraudulentos, suborno, usura, transações fraudulentas, calotes, infidelidade nos contratos entre pessoas, extorsão, enganar alguém em relação ao uso de algo que pertence a este alguém, etc, .
Catecismo de Heidelberg – Pegunta 110. O que Deus proíbe no oitavo mandamento?
R. Deus não somente proíbe o furto e o roubo que as autoridades castigam, mas também classifica como roubo todos os maus propósitos e as práticas maliciosas, através dos quais tentamos nos apropriar dos bens do próximo, seja por força, seja por aparência de direito, a saber: falsificação de peso, de medida, de mercadoria e de moeda, seja por juros exorbitantes ou por qualquer outro meio, proibido por Deus. Também proíbe toda avareza bem como todo abuso e desperdício de suas dádivas.
Este mandamento, portanto protegia tanto a liberdade, como a justiça nos relacionamentos e na convivência das pessoas.
Vejamos as implicações deste mandamento
1 – TUDO PERTECENCE A DEUS, TANTO O QUE É DO OUTRO, COMO O QUE É MEU.
Em primeiro lugar, tudo pertence a Deus, veja por exemplo o Salmo 24 – “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam.” Roubar é pecado, porque Deus é Deus. Este mandamento, como os outros deve ser lido, analisado e praticado à luz do preâmbulo – “Eu sou o Senhor teu Deus.”
Tudo pertence a Deus e dentro desta pressuposição, roubar é um pecado contra Deus em primeiro lugar e uma violação ao direito do próximo dentro daquilo que Deus deu a ele.
PERGUNTA 74. Que exige o oitavo mandamento?
R. O oitavo mandamento exige que procuremos por todos os meios lícitos e justos preservar e aumentar a riqueza e o estado exterior, tanto nosso como do nosso próximo.
Roubar é um pecado contra Deus,  é uma afronta contra a providência de Deus. Primeiro, porque é uma falta de confiança em sua provisão. Guardar o oitavo mandamento também é um exercício de fé na providência de Deus. Roubar é pecado também porque se rouba aquilo Ele providenciou para outra pessoa.
2 – TUDO O QUE É MEU, É POR E PARA MORDOMIA.
Vamos observar também que dentro desta pressuposição, de que tudo é e Deus, então, ele é quem permite se ter coisas como propriedades. Também devemos observar, que se tudo pertence a Deus, o que temos é para ser usado como mordomia, ou seja, cuidamos o que pertence a Deus. Isso significa que não temos o direito ou a liberdade de usar as coisas ao bel prazer de usá-las, mas administrá-las  de acordo com as intenções do seu senhor. Tudo o que possuímos é propriedade de Deus.
Veja o que Calvino diz: "A custódia do jardim foi dada em incumbência a Adão para mostrar que possuímos as coisas que Deus entregou em nossas mãos, sob a condição de nos contentarmos com uso moderados delas e cuidarmos do que permanece. Que cada um de nós considere a si mesmo como um mordomo de Deus em todas as coisas que possuímos. Então, não nos conduziremos de forma dissoluta nem corrupta para abusarmos das coisas que Deus exige que sejam preservadas.”
3  – TUDO O QUE É DO OUTRO, NÃO É MEU.
PERGUNTA 75. Que proíbe o oitavo mandamento? R. O oitavo mandamento proíbe tudo o que impede ou pode impedir os meios lícitos e justos de preservar e aumentar a riqueza e o estado exterior, tanto nosso como do nosso próximo.
Sendo que tudo é de Deus, ele deu o direito à outra pessoa de possuir sua propriedade. Apenas algo que pertence à alguém pode ser roubado. Não temos o direito de tomar para nós o que Deus deu aos outros. Meus irmãos, desta maneira, de alguma maneira todos nós quebramos este mandamento. Os ricos roubam, os pobres roubam, o governo rouba. Há roubo no trabalho, de quem emprega e de quem é empregado, de várias maneiras isso acontece. Crentes podem quebrar este mandamento, por exemplo, achando que é espiritual, ao jejuar no trabalho, ao evangelizar, ao orar, ao ler a Bíblia ou bom livro – se isso diminuir a produtividade que de forma justa o seu empregador espera. O empregador rouba quando exige mais do que o necessário e paga menos. Ele rouba Quando não paga o que é justo ao trabalhador. O roubo do pobre é violação deste mandamento, pois suas necessidades devem ser supridas pelo trabalho ou ajuda lícita de alguém, de uma instituição ou até do governo.
O roubo dos ricos é violação deste mandamento. Veja o que Lutero falou sobre isso: “Longe de serem larápios e arrombadores de fechaduras por meio de chaves falsas para saquear cofres, eles sentam em cadeiras de escritório e são chamados de aristocratas e bons e honrosos cidadãos”.
Também Calvino afirma: “ são ladrões que secretamente roubam a propriedade dos outros e também que buscam ganho pela fama dos outros, acumulam riquezas por práticas ilícitas e são mais dedicados à vantagem particular do que ao que é justo.”
Calvino também afirma o seguinte: “Não esqueçam que todas as artimanhas pelas quais podemos adquirir os bens e dinheiro dos outros, quando tais mecanismos divergem do que é correto e visam o desejo de enganar ou de alguma maneira prejudicar, têm de ser considerados como roubo.”
4 – TUDO O QUE É BEM, DEVE TER SEU USO CORRETO PARA O FIM CORRETO.
Uso o termo “Bem” no sentido de posse, bem material, propriedade.
A mordomia indica que ser dono de algo, no mundo de Deus, não significa que podemos usar as coisas segundo nossos propósitos sem considerar os propósitos de Deus. Ao mesmo tempo  que somos proibidos de tomar coisas que não nos pertencem, somos também chamados a usar o que temos de modo que sejam agradáveis a Deus.
Segundo Jerry Bridges três atitudes básicas existem com relação as coisas:
A primeira diz: O que é seu é meu; vou pegar. Esta é a atitude do ladrão.
A segunda diz: O que é meu é meu, vou guardar. Apesar desta atitude ser por vezes correta, pode ser também uma atitude egoísta e por isso, pecaminosa.
A terceira diz: O que é meu é de Deus, vou compartilhar. Esta é atitude do mordomo de Deus. Deus nos deu o que temos. Deus nos deu além de bens, nos deu coisas mais importantes como a si mesmo. Veja Jesus na Cruz. É o dom maior de Deus. Como cristãos, somos chamados à generosidade. Não temos as coisas apenas para satisfazer a nós mesmos e nossas necessidades, mas também para prover a subsistência dos outros. Um dos princípios desta mordomia é dar, compartilhar o que Deus nos deu para outras pessoas tenham o que precisam.
Todos nós quebramos o oitavo mandamento ( não furtarás). Todos de alguma forma usamos algum bem ilicitamente. Todos temos o desejo de explorar. Os poderosos, só têm os meios para isso.
Catecismo de Heidelberg -  p. 111. Mas o que Deus ordena neste mandamento?  R. Devo promover tanto quanto possível, o bem do meu próximo e tratá-lo como quero que outros me tratem . Além disto, devo fazer fielmente meu trabalho para que possa ajudar ao necessitado.
Este é o mandamento e estas são as implicações e aplicações. É maravilhoso estudar os Dez Mandamentos, porque eles nos confrontam e apontam nossos pecados. Vemos que não existe um único mandamento que guardamos com toda a integridade. Vimos que somos culpados pela Lei. O Evangelho é a boa noticia que diz que Jesus morreu na cruz e ressuscitou para salvar aquele que crê. Jesus morreu na cruz para salvar pecadores.
Jesus foi crucificado entre dois ladrões, mas de acordo com a justiça de Deus, havia três ladrões crucificados, pois Cristo substituiu pecadores, inclusive transgressores do Oitavo Mandamento. Ele que não tinha pecado, foi feito pecado em nosso lugar. 

segunda-feira, 19 de março de 2018

O Amor do Marido por sua Esposa - O Sétimo Mandamento - O Deus do Casamento - Sermão 06

Pregado em 25 de fevereiro de 2018 - Na Capela Missional / Porto Alegre

O DEUS DO CASAMENTO – Sermão n.06

PERGUNTA 70. Qual é o sétimo mandamento?
R. O sétimo mandamento é: "Não adulterarás" - Ex 20.14



    O AMOR DO MARIDO POR SUA ESPOSA
                                                                                                                                          Efésios 5. 25-29
25 Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, / 26 para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, / 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito. / 28 Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. / 29 Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja;
 A missão do marido é amar a esposa com um amor como o de Cristo pela Igreja e cuidar dela como cuida de seu próprio corpo.
No último sermão falamos sobre a submissão da mulher e toda a complexidade que envolve esta submissão. Hoje vamos falar sobre o amor e o cuidado do marido por sua esposa. 
Concluímos também o último sermão invocando a autoridade do grande São João Crisóstomo e sua Vigésima Homilia sobre Efésios onde ele fala sobre o casal. Ele afirma: “Deste problema se originam grandes males e grandes bens para as casas e as cidades. Nada combina tanto com nossa vida como a vida de um casal, se vivem em concórdia. Do contrário, tudo e revoluciona e se confunde”.  “A submissão da mulher não é por causa do marido apenas, mas primeiramente por causa do Senhor.” “Quando a mulher cristã cede ao marido, considera que é para servir ao Senhor.”
Depois de falar sobre a submissão da mulher, veja a beleza de sua sentença seguinte:
“ Ouviste o excesso da submissão. Muito bem; Mas ouve o que de ti reclama. Viste a medida da obediência? Escuta a medida do amor”.
O texto, segundo Fritz Rienecker, traz um vocativo do tipo – “vós maridos”, indicando uma chamada de atenção. Um destaque importante. Chama a atenção também o uso do termo “amor” – Ele usa o verbo – agapao – no tempo presente imperativo – pedindo uma ação habitual e contínua.  Lembrando que o apóstolo estava escrevendo para uma época em que os costumes morais eram extremamente decadentes na cultura em transição Greco-romana. A mensagem cristã soava como uma contracultura. Uma revolução de costumes.  O amor exigido aqui, não significa um apenas uma afeição romântica, mas vem de ágape, uma elevada forma de amor.   Este amor é uma deliberada atitude mental de dedicação e interesse pelo bem estar da pessoa amada. É um devotamento pessoal, não prazer pessoal. Uma dedicação à pessoa que se ama, não a si mesmo. 
Este é o traço dominante. Este é o tipo de amor. Em síntese, meus irmãos, é o tipo de amor que uma mulher desejaria encontrar no seu marido. É o tipo de amor que a mulher deveria encontrar num homem. Este é o amor que o marido deveria oferecer a uma mulher.
Ele é apresentado de duas formas:
I – O MARIDO DEVE AMAR SUA ESPOSA COMO CRISTO AMOU A IGREJA. V.25 Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, 26 para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.
Veja que é um amor que vai além do nível comum, é um amor capaz de sacrifícios. Veja que Cristo amou a igreja e este amor envolveu – entrega para que ela fosse aperfeiçoada.
Como é este amor do tipo do amor de Cristo:
1 – O marido deve subordinar seus interesses em benefício da esposa sempre que estes interesses negar o amor.  O amor ágape não é interesseiro, buscador de prazeres e personalista, antes se coloca em benefício da outra pessoa (ver 1Cor 13). O marido deve imitar a Cristo em sua forma de amar.  “A si mesmo se entregou por ela.”
2 – O marido deve ter a disposição de sacrificar-se pela esposa, isto é, colocar ela como prioridade sobre tudo. Voltando ao mestre Crisóstomo, veja o que ele diz: “Queres que a mulher te obedeça, conforme a igreja a Cristo? Tem solicitude por ela bem como Cristo pela Igreja. Mesmo se preciso dar a vida, até mesmo ser mil vezes ferido, suportar e sofrer seja o que for, não recuses. Procede assim em relação à sua mulher. Se tiver que sofrer algo por causa dela, não a ultrajes. Cristo não procedeu desta maneira.”
3 – O marido deve entender que a só é livre para ter liberdade com sua esposa. Veja que o texto mostra que Cristo deu tudo pela igreja e fez tudo por ela e para ela. O marido não é mais um ser isolado. Ele não é mais livre. Sua esposa agora deve estar e está envolvida em casa pedaço existencial seu. O fato de ele estar casado deve governar e dominar todo o seu pensar, o seu querer, os seus desejos e suas atividades.
4- O marido deve santificar sua esposa. “ele a santificou..ele a purificou.. para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.”
O marido não deve nunca abusar de sua esposa. O marido não deve nunca violar a fé da esposa, o senso de santidade de sua esposa. O que sua esposa achar sujo, é sujo.
Vejam, meus irmãos o alto conceito do marido para o cristianismo bíblico. É este padrão que devemos seguir. É este tipo de amor com que os maridos devem amar a esposa.
II – O MARIDO DEVE AMAR SUA ESPOSA COMO AMA SEU PRÓPRIO CORPO.
v. 28 Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama. 29 Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; 30 porque somos membros do seu corpo.
Interessantíssimo este segundo ponto. O amor de Cristo pela igreja para o cristão é uma questão indiscutível. Alguns podem dizer que isto é impossível. O apóstolo então pontua que o marido deve amar a esposa como ama seu próprio corpo. Ele ilustra isso transformando o amor em alimentar e cuidar. O marido precisa entender que ela e ele são um só. Ela é sua própria carne e assim como ele alimenta e cuida de seu próprio corpo. Veja como Hodge explica isso:  “não se indica aí a medida do amor do marido como se o sentido fosse que ele devia amar a sua mulher como ama o seu próprio corpo. Mas aponta a natureza da relação que é a base dos eu amor. Ele ama a sua esposa porque ela é o seu corpo.”
Como é isto na prática:
1 – O marido não deve negligenciar sua esposa – “Quem ama a esposa a si mesmo se ama.’ Quem negligencia o seu corpo sofre por isso. O padecimento é consequente. Os maridos precisam cuidar isso. É lamentável quando um marido negligencia a esposa e vive como se fosse ele só. Vive como se ainda fosse solteiro. Marido e mulher devem fazer o máximo de coisas juntos.
2 – O marido não deve desvalorizar sua esposa – “Porque ninguém jamais odiou a própria carne.” Todos de alguma forma valorizam seu corpo. O alimento é uma prova disso.  O marido deve dar valor a esposa.  A mulher deve ser parte da construção do marido. O marido deve permitir isso. Uma mulher sábia, a Bíblia diz “edifica a casa”. A esposa precisa deixar de ser uma menina e se assumir como mulher. O marido precisa colaborar com isso. A esposa precisa entender isso.
3 – O marido não deve proteger sua esposa -  “a alimenta e dela cuida.” Este cuidado envolve todas as formas de proteção. O marido precisa oferecer segurança à mulher. O Marido não pode ser inseguro, imaturo,  chantagista e ameaçador. Marido violento deveria ser mandando para o inferno. Maridos bêbados, viciados, pornógrafos , safados, sujos – tudo isso é uma vergonha ao cristão. É abominável ao marido cristão.
4 – O marido deve contribuir para a realização plena da esposa -  “ dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja; 30 porque somos membros do seu corpo.”
Vejamos o que diz  1Pedro 3. 7 - Maridos, vós, igualmente, vivei a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a vossa mulher como parte mais frágil, tratai-a com dignidade, porque sois, juntamente, herdeiros da mesma graça de vida, para que não se interrompam as vossas orações.
O marido precisa estar atento a estas coisas. Com quem você casou? Com uma mulher forte, aceite isso. Com uma mulher frágil? Com uma lady ou com uma ogra? Com uma mulher sensível, delicada, moleca, doidinha, dengosa..você precisa cuidar dela. Esta é sua mulher. Ela é depressiva? Você precisa tratá-la como seu corpo. Cuidar dela como seu corpo. Aqui o apóstolo une as suas coisas novamente. Ele havia dito: ame como Cristo amou a igreja. Depois ele diz: ame-a como você ama seu próprio corpo. No fim, ele diz novamente – como Cristo faz com a igreja.
A mulher é chamada à submissão ao marido, mas a autoridade do marido é regulada pelo exemplo de Cristo e movida pelo amor. Quando um marido se relaciona com sua mulher em amor, não haverá problemas com respeito a submissão da esposa, a menos que ela se comporte como ímpia.
Quando um marido não se comporta com amor, então, ele está se comportando como ímpio.
Não adultere, é o mandamento. Um casamento cristão não quebrará este mandamento – pois encontramos nele – casados um homem que imita a Cristo no amor superior e uma mulher que imita a igreja na sua devoção e submissão.

VIVER COM PACIÊNCIA, ESPERANÇA E PERSEVERANÇA – Romanos 8.18-25

  Pregado em 03 de maio de 2020 sexto sermão na Pademia                                                                                     ...